Vergonhas nacionais
«Vergonha nacional», «humilhação de Portugal»: foi assim que a generalidade dos média qualificou a eliminação da selecção portuguesa dos Jogos Olímpicos. Já antes, quando da derrota no primeiro jogo do Euro-2004, se haviam verificado reacções semelhantes – e logo aí surgiram as exigências de pedidos de desculpas dos jogadores ao povo e ao país pelo acto antipatriótico que fora terem perdido um desafio de futebol. (felizmente, os jogadores não só não cederam à chantagem mediática como, através de uma série de exibições notáveis, obrigaram os inquisidores a meter a viola no saco e a... aplaudi-los).
Nos Jogos Olímpicos, a coisa foi mais grave: a má prestação da selecção portuguesa de futebol – de facto muito má, como acontece, ou pode acontecer, a qualquer equipa de qualquer país sem que daí venha mal ao mundo – foi motivo para o reacender dos sinistros autos de fé. De tal forma que, desta vez, já houve quem se visse na obrigação patriótica de pedir as tais desculpas aos portugueses. Desculpas desnecessárias, tanto mais que, como toda a gente sabe, a selecção não perdeu porque quis perder (e a tristeza visível nos rostos dos jogadores derrotados não era menor do que a da generalidade dos portugueses), além de que perder um, ou dois, ou três jogos de futebol não é coisa que deva envergonhar um País e um povo. Aliás, a vergonha ou o orgulho de Portugal não se medem pelas derrotas ou pelas vitórias futebolísticas e pretender o contrário constitui uma manobra diversionista, visando ocultar ou fazer esquecer as verdadeiras vergonhas nacionais. Que são muitas e grandes: meio milhão de desempregados, um milhão de precários e um pacote laboral violador de direitos fundamentais dos trabalhadores; o último lugar ocupado por Portugal na União Europeia em tudo quanto é bom e o primeiro lugar em tudo quanto é mau; a existência de dois milhões de portugueses vivendo abaixo do limiar da pobreza, metade deles sofrendo graves carências alimentares e pelo menos 200 mil passando fome; a submissão de Portugal aos grandes e poderosos da Europa e aos EUA, com a entrega de pedaços da soberania nacional; a participação de Portugal na criminosa ocupação do Iraque; a política de direita geradora de todas estas e muitas outras vergonhas nacionais – uma política que tem responsáveis conhecidos, os quais, esses sim, são devedores de muitas desculpas (e não só) aos portugueses.
Nos Jogos Olímpicos, a coisa foi mais grave: a má prestação da selecção portuguesa de futebol – de facto muito má, como acontece, ou pode acontecer, a qualquer equipa de qualquer país sem que daí venha mal ao mundo – foi motivo para o reacender dos sinistros autos de fé. De tal forma que, desta vez, já houve quem se visse na obrigação patriótica de pedir as tais desculpas aos portugueses. Desculpas desnecessárias, tanto mais que, como toda a gente sabe, a selecção não perdeu porque quis perder (e a tristeza visível nos rostos dos jogadores derrotados não era menor do que a da generalidade dos portugueses), além de que perder um, ou dois, ou três jogos de futebol não é coisa que deva envergonhar um País e um povo. Aliás, a vergonha ou o orgulho de Portugal não se medem pelas derrotas ou pelas vitórias futebolísticas e pretender o contrário constitui uma manobra diversionista, visando ocultar ou fazer esquecer as verdadeiras vergonhas nacionais. Que são muitas e grandes: meio milhão de desempregados, um milhão de precários e um pacote laboral violador de direitos fundamentais dos trabalhadores; o último lugar ocupado por Portugal na União Europeia em tudo quanto é bom e o primeiro lugar em tudo quanto é mau; a existência de dois milhões de portugueses vivendo abaixo do limiar da pobreza, metade deles sofrendo graves carências alimentares e pelo menos 200 mil passando fome; a submissão de Portugal aos grandes e poderosos da Europa e aos EUA, com a entrega de pedaços da soberania nacional; a participação de Portugal na criminosa ocupação do Iraque; a política de direita geradora de todas estas e muitas outras vergonhas nacionais – uma política que tem responsáveis conhecidos, os quais, esses sim, são devedores de muitas desculpas (e não só) aos portugueses.