De todas as lutas

Luís Gomes
Na Festa do Portugal de Abril, milhares de mulheres, homens e jovens de todas as regiões, crenças, credos e convicções religiosas e políticas progressistas de esquerda dão um pouco do seu tempo livre – alguns, parte das suas férias – para contribuírem, com o seu empenho, para uma realização política e cultural sem paralelo.
Não é possível comparar qualquer outro tipo de festival com aquilo que anualmente acontece na Quinta da Atalaia. Primeiro, não há festa em que, na sua construção e funcionamento, sejam doados voluntariamente tantos milhares horas de trabalho.
Pela manhã, nas jornadas de trabalho, elas e eles aparecem frente ao bar de apoio que vai servindo os pequenos-almoços a quem ainda os não tenha tomado. Imediatamente, os camaradas responsáveis vão sabendo das preferências de tarefas de cada um e formando as brigadas consoante as necessidades a que o trabalho obriga, as idades e as capacidades de cada um.
Uns montam centenas de quilómetros de tubagens e braçadeiras que formam os vários pavilhões. Outros assentam, com arames, os solhos de madeira nas estruturas, posteriormente cobertas com chapas de madeira, dando forma às paredes, balcões e portas. Logo vêm os decoradores com pincéis, a concretizar o que o empenho artístico de outros concebeu durante o Inverno e a Primavera, para os respectivos espaços, enquanto electricistas e canalizadores preparam tudo para que nada falhe.
Cada região vai-se definindo com as suas cores e características próprias, o seu património e as suas lutas, através das sua gentes.
O terreno é limpo de tudo o que está seco, descobrindo o tapete de relva que, a cada ano que passa manda para as calendas da história as Festas de terra e do pó, quando tudo tinha que se fazer de raíz e – à semelhança do que PS, PSD e PP pretendem agora fazer com a Lei do financiamento dos partidos – quando os inimigos do PCP tudo fizeram para acabar com a Festa.
Já nessa altura, a direita e os patrões sabiam como é, para eles, perigoso haver uma Festa em que centenas de milhar de cidadãos, em convívio, aprofundam o seu conhecimento sobre as lutas dos trabalhadores de todo o mundo, do ponto de vista dos explorados e não dos exploradores. É isso que sempre foi e é insuportável para os «boys» deste criminoso sistema capitalista.
Pretendem agora destruí-la por… decreto, imagine-se a modernidade! Salazar não seria mais moderno!
Operários, intelectuais cuja consciência não está à venda, desempregados, estudantes, bolseiros e até alguns estrangeiros; reformados e jovens cheios de sonhos e aspirações descobrem juntos em salutar, livre, pacífico e democrático convívio, que é possível construir um Portugal melhor da mesma forma que todos os anos se vai melhorando a Festa.
Outros, conscientes da importância para continuar a Festa e a luta, desdobram-se a vender Entradas Permanentes.
Se não são os trabalhadores a fazer a sua história, ela será sempre mal contada: daí decorre a importância da Festa do Avante!. Por isso ela gera tantas paixões e ódios, estes últimos apenas da parte de quem vive à custa do trabalho do povo português.
Juntos, os construtores respiram o ar que emana da convicção calejada em lutas por justiça social, saído da terra do único Partido com a capacidade e as características revolucionárias para a conceber, criar, construir e dar a usufruir, desta vez para celebrar o 30.º aniversário do 25 de Abril, tema principal do evento.
Outra grande diferença desta para todas outras que se fazem, é o facto de esta ser feita por gente de todas as lutas, num determinante contributo para a alternativa que urge e o povo precisa.


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