Acto de caridade
Ouvidos pelo «Público» (6/8) num inquérito sobre seis assuntos, os três candidatos à liderança do PS, em sinal dos tempos ou das tácticas, brindaram-nos com certas reservas aos processos de privatização.
De facto, João Soares sublinhou que o Estado «não pode prescindir de alguns sectores que são estratégicos, que têm que ver com a energia, com o petróleo, com as águas», Manuel Alegre denunciou o «sectarismo das privatizações» e salientou que «porventura se tocou em sectores estratégicos que não se deveria ter tocado, como por exemplo a distribuição da água ou a questão da energia» e José Sócrates adiantou mesmo que «em certos sectores, as privatizações foram mais longe em Portugal que na maioria dos nossos parceiros europeus».
É claro que reparámos que João Soares e Manuel Alegre não certamente por acaso falam das águas (cuja privatização foi lançada pelo então Ministro José Sócrates) e que José Sócrates, depois da contribuição que deu para estender as áreas de privatização, já possa vir declarar não crer que «se coloque agora o problema da necessidade de privatização de novos sectores». E também reparámos que a posição de José Sócrates de que não se deve «formular uma posição de principio contrária» em relação «às operações de privatização, total ou parcial, do capital social de empresas» significa nem mais nem menos o seu total acordo a que se vá ainda «mais longe em Portugal que na maioria dos nossos parceiros europeus».
Sim, reparámos em tudo isto, mas nem por isso deixámos sobretudo de reparar que a forma genérica como os três candidatos colocam as suas diferenciadas reservas sobre o processo de privatizações pode deixar muitos leitores a pensar que a fúria e os excessos deste processo ou caíram do céu aos trambolhões ou são da exclusiva responsabilidade dos governos da direita.
Porque nem João Soares, nem Alegre, nem Sócrates foram capazes de, nestes depoimentos, assinalar de forma minimamente explícita as incontornáveis responsabilidades do seu próprio partido nesta matéria.
E se porventura estiverem desmemoriados, então pratique-se a caridade de lhes lembrar que em 1996 houve um Secretário de Estado do PS que declarou que «por cada empresa que privatizo abro uma garrafa de champanhe»; que, em 10.296, o «DN» tinha um título que gritava «Sousa Franco privatiza em toda a linha» e que, em 31.5.2002, a única coisa que Jaime Gama teve para dizer na AR sobre o programa de privatizações do Governo PSD-CDS foi que, em grande parte (EDP, Portucel, GALP), ele já vinha do anterior Governo do PS.
E sabendo-se isto e muito mais, melhor se percebe que a simples coreografia das palavras entretém mas não resolve.
De facto, João Soares sublinhou que o Estado «não pode prescindir de alguns sectores que são estratégicos, que têm que ver com a energia, com o petróleo, com as águas», Manuel Alegre denunciou o «sectarismo das privatizações» e salientou que «porventura se tocou em sectores estratégicos que não se deveria ter tocado, como por exemplo a distribuição da água ou a questão da energia» e José Sócrates adiantou mesmo que «em certos sectores, as privatizações foram mais longe em Portugal que na maioria dos nossos parceiros europeus».
É claro que reparámos que João Soares e Manuel Alegre não certamente por acaso falam das águas (cuja privatização foi lançada pelo então Ministro José Sócrates) e que José Sócrates, depois da contribuição que deu para estender as áreas de privatização, já possa vir declarar não crer que «se coloque agora o problema da necessidade de privatização de novos sectores». E também reparámos que a posição de José Sócrates de que não se deve «formular uma posição de principio contrária» em relação «às operações de privatização, total ou parcial, do capital social de empresas» significa nem mais nem menos o seu total acordo a que se vá ainda «mais longe em Portugal que na maioria dos nossos parceiros europeus».
Sim, reparámos em tudo isto, mas nem por isso deixámos sobretudo de reparar que a forma genérica como os três candidatos colocam as suas diferenciadas reservas sobre o processo de privatizações pode deixar muitos leitores a pensar que a fúria e os excessos deste processo ou caíram do céu aos trambolhões ou são da exclusiva responsabilidade dos governos da direita.
Porque nem João Soares, nem Alegre, nem Sócrates foram capazes de, nestes depoimentos, assinalar de forma minimamente explícita as incontornáveis responsabilidades do seu próprio partido nesta matéria.
E se porventura estiverem desmemoriados, então pratique-se a caridade de lhes lembrar que em 1996 houve um Secretário de Estado do PS que declarou que «por cada empresa que privatizo abro uma garrafa de champanhe»; que, em 10.296, o «DN» tinha um título que gritava «Sousa Franco privatiza em toda a linha» e que, em 31.5.2002, a única coisa que Jaime Gama teve para dizer na AR sobre o programa de privatizações do Governo PSD-CDS foi que, em grande parte (EDP, Portucel, GALP), ele já vinha do anterior Governo do PS.
E sabendo-se isto e muito mais, melhor se percebe que a simples coreografia das palavras entretém mas não resolve.