Kerry, o candidato do Partido Democrata
A Convenção Nacional do Partido Democrata terminou a semana passada com a nomeação oficial dos senadores John Kerry e John Edwards como candidatos presidenciais. Foi um evento mediático sem surpresas.
A receptividade a criticas a Bush é tal que Fahrenheit 9/11 bateu recordes
O resultado era conhecido à meses. Kerry foi percepcionado como o candidato mais capaz de atrair um amplo eleitorado e vencer Bush. Esta ideia foi-se reforçando à medida que Kerry obteve vitórias importantes nas primeiras eleições primárias e ganhou apoio de pessoas chave no Partido Democrata. Mas Kerry emergiu como líder sem ter logrado animar a base democrata em torno da sua figura ou de um programa eleitoral.
Durante o período final das primárias, Kerry esteve longe das atenções, preferindo talvez tirar proveito do dano que Bush causava a si mesmo: uma economia em lenta recuperação, um número crescente de vítimas de guerra, o escândalo de tortura, falhas de inteligência que poderiam ter prevenido o Onze de Setembro e a manipulação de informação para levar o país à guerra. O que não falta são motivos para criticar Bush.
Uma análise dos resultados eleitorais recentes revela que uma grande proporção de corridas eleitorais são decididas por uma margem pequena de votos. As eleições presidenciais de 2000 são o exemplo mais notório, mas tal aplica-se também a inúmeras corridas para o Congresso. E em ambos parlamentos do Congresso, o Partido Republicano detém uma maioria marginal de membros. O Parido Democrata tem assumido que este contexto dita o apaziguamento do centro eleitoral. Durante a Convenção, uma das mensagens que os participantes tentaram apresentar foi a de um país unido. Nas palavras de uma das estrelas emergentes do partido, Barack Obama, provavelmente o futuro Senado por Illinois, «não existe um América liberal, e uma América conservadora, existem os Estados Unidos da América».
Retórica de lado, a verdade é que o eleitorado está divido. Existe uma hostilidade entre os dois campos que é palpável nas conversas quotidianas. Veja-se o sucesso do novo documentário de Michael Moore. As posições de Moore seriam noutras circunstâncias ignoradas como radicais, mas é tal a receptividade a críticas à Administração Bush que em menos de um mês o filme Fahrenheit 9/11 lucrou mais de 100 milhões de dólares, tornando-se o documentário mais lucrativo de sempre.
Em aberto
Apesar do terreno fértil, durante meses Kerry não apresentou uma crítica insistente a Bush. Pelo contrário, deixou espaço para críticas republicanas, em particular à sua falta de consistência, aprovando leis no Senado que agora critica enquanto candidato. A Convenção foi o momento crucial para Kerry se apresentar ao povo americano. Inúmeros interveniente realçaram a sua carreira militar. A sua família tentou humanizá-lo. E o discurso de Kerry surpreendeu-me. Demonstrou uma paixão que parecia ausente até então, logrou atacar vários elementos da Administração Bush e apresentou alguns elementos do seu programa, incluindo uma reforma fiscal desfavorável aos mais ricos e uma postura de cooperação com resto do mundo. Contudo, segundo várias sondagens, após a Convenção, Kerry não logrou ganhar vantagem sobre Bush: a diferença entre os dois candidatos continua muito estreita. E a vitória dependerá em poucos Estados.
O sistema eleitoral presidencial está organizado em círculos eleitorais estaduais, no qual cada Estado elege um número de representantes ao Colégio Eleitoral proporcional à sua população. Deste modo, um Estado como o Alaska elege apenas três representantes face aos 54 da Califórnia. Muitos Estados estão garantidos para um dos dois partidos. Por exemplo, Nova Iorque elegerá democratas e Texas republicanos. A eleição está dependente do resultado num número restrito de Estados onde uma margem de algumas centenas de votos pode garantir a eleição de um número significativo de representantes ao Colégio Eleitoral. Entre os estados cruciais estão Florida, Michigan, Minnesota, Missouri, Ohio e Pennsylvania. Não será de surpreender o facto de ambos os candidatos terem passado a última semana visitando estes Estados.
A Convenção Republicana será em finais de Agosto, na cidade de Nova Yorque. Inúmeras organizações preparam-se para receber Bush com um mar de protestos .
André Levy
Durante o período final das primárias, Kerry esteve longe das atenções, preferindo talvez tirar proveito do dano que Bush causava a si mesmo: uma economia em lenta recuperação, um número crescente de vítimas de guerra, o escândalo de tortura, falhas de inteligência que poderiam ter prevenido o Onze de Setembro e a manipulação de informação para levar o país à guerra. O que não falta são motivos para criticar Bush.
Uma análise dos resultados eleitorais recentes revela que uma grande proporção de corridas eleitorais são decididas por uma margem pequena de votos. As eleições presidenciais de 2000 são o exemplo mais notório, mas tal aplica-se também a inúmeras corridas para o Congresso. E em ambos parlamentos do Congresso, o Partido Republicano detém uma maioria marginal de membros. O Parido Democrata tem assumido que este contexto dita o apaziguamento do centro eleitoral. Durante a Convenção, uma das mensagens que os participantes tentaram apresentar foi a de um país unido. Nas palavras de uma das estrelas emergentes do partido, Barack Obama, provavelmente o futuro Senado por Illinois, «não existe um América liberal, e uma América conservadora, existem os Estados Unidos da América».
Retórica de lado, a verdade é que o eleitorado está divido. Existe uma hostilidade entre os dois campos que é palpável nas conversas quotidianas. Veja-se o sucesso do novo documentário de Michael Moore. As posições de Moore seriam noutras circunstâncias ignoradas como radicais, mas é tal a receptividade a críticas à Administração Bush que em menos de um mês o filme Fahrenheit 9/11 lucrou mais de 100 milhões de dólares, tornando-se o documentário mais lucrativo de sempre.
Em aberto
Apesar do terreno fértil, durante meses Kerry não apresentou uma crítica insistente a Bush. Pelo contrário, deixou espaço para críticas republicanas, em particular à sua falta de consistência, aprovando leis no Senado que agora critica enquanto candidato. A Convenção foi o momento crucial para Kerry se apresentar ao povo americano. Inúmeros interveniente realçaram a sua carreira militar. A sua família tentou humanizá-lo. E o discurso de Kerry surpreendeu-me. Demonstrou uma paixão que parecia ausente até então, logrou atacar vários elementos da Administração Bush e apresentou alguns elementos do seu programa, incluindo uma reforma fiscal desfavorável aos mais ricos e uma postura de cooperação com resto do mundo. Contudo, segundo várias sondagens, após a Convenção, Kerry não logrou ganhar vantagem sobre Bush: a diferença entre os dois candidatos continua muito estreita. E a vitória dependerá em poucos Estados.
O sistema eleitoral presidencial está organizado em círculos eleitorais estaduais, no qual cada Estado elege um número de representantes ao Colégio Eleitoral proporcional à sua população. Deste modo, um Estado como o Alaska elege apenas três representantes face aos 54 da Califórnia. Muitos Estados estão garantidos para um dos dois partidos. Por exemplo, Nova Iorque elegerá democratas e Texas republicanos. A eleição está dependente do resultado num número restrito de Estados onde uma margem de algumas centenas de votos pode garantir a eleição de um número significativo de representantes ao Colégio Eleitoral. Entre os estados cruciais estão Florida, Michigan, Minnesota, Missouri, Ohio e Pennsylvania. Não será de surpreender o facto de ambos os candidatos terem passado a última semana visitando estes Estados.
A Convenção Republicana será em finais de Agosto, na cidade de Nova Yorque. Inúmeras organizações preparam-se para receber Bush com um mar de protestos .
André Levy