Dissimulação
· Vítor Dias
Ainda os votos para o Parlamento Europeu não tinham arrefecido nos pacotes e arquivos, e já o Conselho Europeu se apressava a adoptar o projecto da dita «Constituição Europeia».
É certo que das eleições europeias até tinha resultado a reforçada expressão em muitos países de diversificadas atitudes e posições de desconfiança, reserva ou oposição ao actual rumo da «construção europeia».
Mas, para os mandantes desta «construção», isso não conta porque de há muito que a sua cega determinação, insensibilidade e rigidez transformou comparativamente os muito criticados «planos quinquenais» em inocentes meninos de coro.
É claro que, segundo os defensores do referido projecto, era urgentíssimo aprová-lo e enormes seriam os prejuízos e malefícios da dilação ou atraso de tal acto. E essa aprovação era tão urgente quanto já o havia sido há seis meses antes da Espanha e da Polónia a terem impedido, só faltando acrescentar porém, para se ter uma noção da seriedade de certos discursos, que até a Espanha mudar de posição toda a gente considerava que o impasse verificado não era nenhum drama de maior e toda a gente estava mais ou menos conformada a esperar um ano ou dois.
Para quem for capaz de ter alguma memória, um outro aspecto que emerge deste processo de imposição de uma «Constituição europeia» é a patente má-fé e as tácticas de dissimulação que têm estado presentes na condução do processo de integração europeia.
De facto, se há apenas cinco anos alguém tivesse perguntado aos cabeças de lista do PS e do PSD para as eleições do Parlamento Europeu se defendiam a aprovação de uma «Constituição europeia», não obteria nenhuma resposta explicitamente afirmativa e o mais certo seria ouvir que tal hipótese não estava em cima da mesa, se não mesmo que a precipitação é má conselheira.
E quem se der ao trabalho de revisitar as afirmações feitas em torno do Tratado de Maastricht (no período 92-94), ficaria retroactivamente espantado com o discurso quase geral que, sob o impacto do susto que então apanharam, foi então debitado pelos principais defensores e mandantes da «construção europeia».
De facto, nesse tempo, eram aos molhos as recomendações para que houvesse prudência e sensatez nos ritmos e formas de evolução da integração europeia, as promessas de maior informação aos cidadãos e as advertências sobre os perigos de derivas voluntaristas que fizessem tábua rasa das largas manchas de desconfiança e dos sentimentos de distância e desafeição que alastravam entre os povos europeus.
Passada uma década, tudo lhes passou. Aqui chegados, qualquer grão de areia ou derrota que sofram nos processos nacionais de ratificação da dita «Constituição» serão uma boa notícia e um merecido castigo.
Ainda os votos para o Parlamento Europeu não tinham arrefecido nos pacotes e arquivos, e já o Conselho Europeu se apressava a adoptar o projecto da dita «Constituição Europeia».
É certo que das eleições europeias até tinha resultado a reforçada expressão em muitos países de diversificadas atitudes e posições de desconfiança, reserva ou oposição ao actual rumo da «construção europeia».
Mas, para os mandantes desta «construção», isso não conta porque de há muito que a sua cega determinação, insensibilidade e rigidez transformou comparativamente os muito criticados «planos quinquenais» em inocentes meninos de coro.
É claro que, segundo os defensores do referido projecto, era urgentíssimo aprová-lo e enormes seriam os prejuízos e malefícios da dilação ou atraso de tal acto. E essa aprovação era tão urgente quanto já o havia sido há seis meses antes da Espanha e da Polónia a terem impedido, só faltando acrescentar porém, para se ter uma noção da seriedade de certos discursos, que até a Espanha mudar de posição toda a gente considerava que o impasse verificado não era nenhum drama de maior e toda a gente estava mais ou menos conformada a esperar um ano ou dois.
Para quem for capaz de ter alguma memória, um outro aspecto que emerge deste processo de imposição de uma «Constituição europeia» é a patente má-fé e as tácticas de dissimulação que têm estado presentes na condução do processo de integração europeia.
De facto, se há apenas cinco anos alguém tivesse perguntado aos cabeças de lista do PS e do PSD para as eleições do Parlamento Europeu se defendiam a aprovação de uma «Constituição europeia», não obteria nenhuma resposta explicitamente afirmativa e o mais certo seria ouvir que tal hipótese não estava em cima da mesa, se não mesmo que a precipitação é má conselheira.
E quem se der ao trabalho de revisitar as afirmações feitas em torno do Tratado de Maastricht (no período 92-94), ficaria retroactivamente espantado com o discurso quase geral que, sob o impacto do susto que então apanharam, foi então debitado pelos principais defensores e mandantes da «construção europeia».
De facto, nesse tempo, eram aos molhos as recomendações para que houvesse prudência e sensatez nos ritmos e formas de evolução da integração europeia, as promessas de maior informação aos cidadãos e as advertências sobre os perigos de derivas voluntaristas que fizessem tábua rasa das largas manchas de desconfiança e dos sentimentos de distância e desafeição que alastravam entre os povos europeus.
Passada uma década, tudo lhes passou. Aqui chegados, qualquer grão de areia ou derrota que sofram nos processos nacionais de ratificação da dita «Constituição» serão uma boa notícia e um merecido castigo.