Israel tenta esmagar a resistência palestiniana

Massacre de Rafah

Enquanto Ariel Sharon encena a retirada da Faixa de Gaza a coberto de um plano apresentado ao governo que lidera, o exército israelita bombardeou uma manifestação pacífica matando pelo menos 24 pessoas.

Não é obrigatório ser alemão para ser nazi

A política de aniquilação da resistência popular palestiniana perpetrada pelo governo de Israel conheceu, na quarta-feira da semana passada, um dos mais sangrentos episódios.
Depois de nove palestinianos terem sido mortos, de manhã, por atiradores israelitas, em Rafah, o exército bombardeou uma manifestação de palestinianos no bairro de Tel Sultan vitimando 24 pessoas, entre as quais uma dezena de crianças em idade escolar.
Os testemunhos relatam cenas de um autêntico massacre, com centenas de pessoas em fuga acossadas pelas rajadas de metralhadora e pelas bombas lançadas dos helicópteros.
De acordo com fontes hospitalares, os cadáveres resultantes da incursão israelita acumularam-se numa morgue improvisada e nem a capacidade de adaptação dos profissionais conseguiu dar resposta aos inúmeros feridos que chegaram ao hospital de Rafah, localidade depauperada onde habitam cerca de 145 mil pessoas, entre as quais se contam mais de 80 mil refugiados.
Para agravar a situação foram cortados os abastecimentos de água e energia eléctrica e, de acordo com informações divulgadas por organizações humanitárias, as estradas foram bloqueadas e as ambulâncias impedidas de entrar na zona para prestarem assistência aos feridos.
Mesmo depois da chacina, prontamente repudiada pela «comunidade internacional», as tropas de Sharon voltaram a entrar no campo de refugiados, na noite de quarta-feira, numa operação apoiada por carros blindados e aeronaves, saldando-se em pelo menos mais três vítimas mortais, cenário que teve repetições nos dias seguintes.
Só na segunda-feira os militares deram por concluídas as acções de intimidação em larga escala no campo de refugiados de Rafah deixando para trás um balanço de 41 mortos entre os palestinianos, mas as autoridades de Israel vão avisando que este não será o último capítulo de uma história que, desde o início da segunda intifada, em Setembro de 2000, já assassinou mais de três mil civis palestinianos.

Repúdio interno

Em reacção aos massacres de Tel Sutan, muitas foram as vozes que acusaram Israel de «genocídio» e «crimes de guerra».
As autoridades palestinianas acusaram, por intermédio de Iasser Arafat, Israel de ter levado a cabo uma «carnificina» e decretaram três dias de luto nacional, anúncio ao qual se seguiu uma manifestação de milhares de pessoas em Gaza, determinadas em demonstrar que nem o massacre efectuado horas antes em Rafah lhes foi capaz de vergar o orgulho e a tenacidade em construir uma pátria livre e independente.
No Knesset, o parlamento de Israel, o deputado Taleb al Sanna proferiu a condenação mais controversa ao afirmar que «não é obrigatório ser alemão para ser nazi».
Igual posição tiveram os parlamentares Ahmed Tisbi, Azmi Bichara e Yuli Tamir, que falaram em nome das bancadas da minoria árabe israelita e dos trabalhistas.
Os deputados argumentaram que o primeiro-ministro, Ariel Sharon, o ministro da defesa, Shaul Mofaz, e o chefe do Estado-Maior, Moshe Yaalon, deveriam comparecer perante um tribunal para responderem por crimes de guerra, afirmando ainda que os acontecimentos de Rafah revelam o total fracasso da política para os territórios.
Nem dentro do executivo governamental Sharon se livrou da condenação. Tomi Lapid, líder do partido Shinui e ministro da Justiça do governo de coligação, declarou que as imagens lhe haviam feito lembrar o holocausto, abrindo uma crise política no interior do governo.

ONU condena, EUA não

Logo após o massacre no bairro de Tel Sutan, o Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas aprovou, com 14 votos favoráveis e uma abstenção, uma moção a condenar o bombardeamento israelita e a demolição de habitações na Faixa de Gaza, junto da fronteira com o Egipto.
Posição semelhante assumiram a UE, a Liga dos Países Árabes, o Secretário-Geral da ONU e diversas agências ligadas às Nações Unidas, como o Alto Comissariado para os Direitos Humanos e a UNICEF.
Da parte da administração norte-americana a condenação foi, mais do que tímida, reveladora do compromisso com Sharon e os sectores mais reaccionários da direita israelita.
Em comunicado oficial, o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, considerou que «Israel tem o direito de se defender», embora tenha lamentado «as operações conduzidas nos últimos dias em Gaza».
Como se tal não bastasse, a abstenção dos EUA no CS foi entendida como uma fuga ao repúdio internacional contra Israel, facto ao qual se juntaram as declarações de Bush a respeito da matéria.
O presidente dos EUA não se demonstrou muito afectado pelas imagens do massacre e afirmou-se mesmo «fortemente comprometido a favor da segurança de Israel».
Ainda assim, um responsável israelita, que foi citado por agências internacionais com reserva de anonimato, declarou-se desiludido com a posição norte-americana e chegou mesmo a classificar a abstenção no CS como uma hipocrisia pois, segundo disse, os EUA conhecem melhor que ninguém a «luta contra o terrorismo» e ninguém apresentou nenhuma resolução quando as cadeias de televisão árabes divulgaram imagens de um bombardeamento a uma festa de casamento no Iraque, donde resultaram igualmente 40 mortos.


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