Como peixes na água
Estamos a dezenas de milhares de mortos de distância do dia em que Bush e o seu Blair informaram o mundo de que o Iraque possuía armas de destruição maciça (ADM) e se preparava para as utilizar, em actos terroristas contra a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Toda a gente medianamente informada soube, desde logo, que a informação era falsa, que não passava de um pretexto para os EUA, em nome do combate ao terrorismo, ocuparem o Iraque e as suas riquezas petrolíferas. E muita gente passou a escrito essa verdade – havendo, até, quem tenha prenunciado os massacres, as torturas, a barbárie, que viriam a verificar-se.
Do outro lado – do lado da mentira ao serviço do Império – estavam aqueles que, por dever de ofício, têm como tarefa repetir a voz do dono, tarefa que, neste caso concreto, consistia em demonstrar a veracidade da informação falsa. Os rapazes desunharam-se no cumprimento do dever e há que reconhecer que não se lhes podia exigir muito mais do que aquilo que fizeram: naquele jeito sem vergonha que lhes é tão caro, os pachecos, delgados, fernandes & cia de todo o Planeta, bem distribuídos pela comunicação social dominante, fartaram-se de demonstrar, primeiro que as ADM estavam lá e que eles bem as tinham visto; depois, que, afinal não estavam, mas podiam ter estado; finalmente, que se não estavam, viriam, muito provavelmente, a estar; ao mesmo tempo, iam comentando os avanços das forças libertadoras, explicando as enormes vantagens da invasão para os iraquianos; enaltecendo a bondade democrática da Coligação que, despejando milhares de toneladas de bombas (bombas democráticas e não de destruição maciça, anote-se!), inundava o Iraque de democracia e de liberdade; mais tarde evidenciaram um deslumbramento democrático face á notícia de que uns quantos lamegos contratados, haviam escrito e Bremer havia mandado publicar, a Constituição do país – desta vez inundando o Iraque de Lei Fundamental. A divulgação, com fotografias e tudo, das torturas, proporcionou aos prestimosos propagandistas uma exuberante exibição de piruetas, com feéricas profissões de fé cega na democracia norte-americana, festejando com foguetes o facto de Bush e outros responsáveis pelas torturas as terem considerado «condenáveis». E confirmando que se sentem como peixes na água enquanto cúmplices do terror e do horror – de que as torturas reveladas são uma infinitésima amostra.