A diferença está no «R»
«Os valores de Abril, como a liberdade, a democracia, o progresso económico e
social, não são compatíveis com comemorações rotineiras e enquadradas em
considerações meramente ideológicas». A afirmação é do ministro da Presidência, Morais Sarmento, que parece estar convencido de ter descoberto o ovo de Colombo para, como quem não quer a coisa, fazer esquecer que alguma vez existiu fascismo em Portugal e que foi a aliança Povo/MFA que tornou possível a democracia no nosso País.
Como a ligeireza de quem anuncia a nova moda primavera/verão, MS dá como facto adquirido que é tempo de extirpar as conotações ideológicas das comemorações de Abril, deixar de lado o passado e transformar o evento numa espécie de feira das novas tecnologias.
Os mais jovens, que têm as costas largas, são o pretexto. Considera o Governo que para a geração «para quem o 25 de Abril é uma data da História», o que importa é proporcionar «uma avaliação objectiva do percurso que se viveu», pondo o ênfase na «realidade muito distinta» da de 1974 em que hoje alegadamente vivemos.
Quer o ministro dizer com isto que é mais importante «olhar para a frente do que olhar para trás», pelo que «a palavra chave» passa a ser «evolução». Nesta conformidade, o objectivo das comemorações de 30 anos de Abril deverá ser mostrar «a fotografia do país em 1974 e em 2004», com particular destaque para as «novas ferramentas da sociedade de informação», como o telemóvel, a Internet, o multibanco e o DVD. Convicto de que estes «interfaces da comunicação instantânea e global» são hoje considerados imprescindíveis por qualquer jovem, «independentemente da sua condição social», MS quer implementar um «novo conceito estratégico de comemorações do 25 de Abril».
Trocando por miúdos, o que está na forja, a começar pelo nome - «Abril é evolução» em vez de «Abril é revolução» - é o apagamento do passado para melhor escamotear a realidade da política presente, cada vez mais ferozmente empenhada em destruir os valores e o que resta das conquistas de Abril.
Para o Governo, o que é preciso é que os jovens não saibam o que foi e o mais que poderia ter sido o sonho de Abril, para que a direita possa prosseguir o seu caminho. Pouco importa que os jovens não tenham trabalho, nem perspectivas de futuro; o que importa é que se alienem com o faz de conta da «evolução» para que não sejam atraídos pelas ideias de «revolução». A diferença está no «R» e não é de pouca monta.
social, não são compatíveis com comemorações rotineiras e enquadradas em
considerações meramente ideológicas». A afirmação é do ministro da Presidência, Morais Sarmento, que parece estar convencido de ter descoberto o ovo de Colombo para, como quem não quer a coisa, fazer esquecer que alguma vez existiu fascismo em Portugal e que foi a aliança Povo/MFA que tornou possível a democracia no nosso País.
Como a ligeireza de quem anuncia a nova moda primavera/verão, MS dá como facto adquirido que é tempo de extirpar as conotações ideológicas das comemorações de Abril, deixar de lado o passado e transformar o evento numa espécie de feira das novas tecnologias.
Os mais jovens, que têm as costas largas, são o pretexto. Considera o Governo que para a geração «para quem o 25 de Abril é uma data da História», o que importa é proporcionar «uma avaliação objectiva do percurso que se viveu», pondo o ênfase na «realidade muito distinta» da de 1974 em que hoje alegadamente vivemos.
Quer o ministro dizer com isto que é mais importante «olhar para a frente do que olhar para trás», pelo que «a palavra chave» passa a ser «evolução». Nesta conformidade, o objectivo das comemorações de 30 anos de Abril deverá ser mostrar «a fotografia do país em 1974 e em 2004», com particular destaque para as «novas ferramentas da sociedade de informação», como o telemóvel, a Internet, o multibanco e o DVD. Convicto de que estes «interfaces da comunicação instantânea e global» são hoje considerados imprescindíveis por qualquer jovem, «independentemente da sua condição social», MS quer implementar um «novo conceito estratégico de comemorações do 25 de Abril».
Trocando por miúdos, o que está na forja, a começar pelo nome - «Abril é evolução» em vez de «Abril é revolução» - é o apagamento do passado para melhor escamotear a realidade da política presente, cada vez mais ferozmente empenhada em destruir os valores e o que resta das conquistas de Abril.
Para o Governo, o que é preciso é que os jovens não saibam o que foi e o mais que poderia ter sido o sonho de Abril, para que a direita possa prosseguir o seu caminho. Pouco importa que os jovens não tenham trabalho, nem perspectivas de futuro; o que importa é que se alienem com o faz de conta da «evolução» para que não sejam atraídos pelas ideias de «revolução». A diferença está no «R» e não é de pouca monta.