Clarificações

Leandro Martins
Quando as coisas andam muito embrulhadas e todos os dias se assiste a «novidades políticas» que parecem mostrar alterações significativas, e quando, no essencial, tudo fica na mesma - ou pior -, não há nada melhor que uma refrescante... clarificação.
Vem isto a propósito de eleições. Por toda a Europa, parece assistir-se a uma cerrada luta entre esquerda e direita. E, para os mais distraídos, dir-se-ia que a direita ganha, porque os partidos à direita do «centro» levam vantagem. Foi assim, por exemplo, na Grécia. Parece que em Espanha o mesmo se prepara. Entretanto, na Alemanha, as sondagens mostram a esquerda a descer assustadoramente e a direita a subir. Na Áustria, o famigerado Haider ganha lá na sua terra. Na França, os socialistas não parecem erguer a cabeça do atoleiro em que a meteram (sem falar dos comunistas que àqueles se haviam aliado e deixado engolir pelo mesmo vórtice em que a esquerda francesa se viu agarrada). Há ainda a constatar que a chamada extrema-direita se vai fortalecendo e ameaçando vir a governar nesta Europa de bons costumes. E o pavor que difunde terá servido, por exemplo em França, para assegurar a vitória a Chirac, um homem de... direita.
Valha-nos a santa América, onde a «esquerda» parece revigorada com o serôdio viço de um veterano do Vietname, herói medalhado que, mais tarde, iria batalhar pela paz. Kerry, saloiamente chamado de «marido de uma portuguesa» (Heinz, procurem em todos os supermercados o bom Ketchup), prepara a vitória que fará esquecer quem o homem é e donde vem - das trevas do «crânio e ossos», como, de resto, Bush, essa sinistra sociedade secreta só para ricos e poderosos que os EUA engendraram.
Mas, afinal, o que é a direita e a esquerda, nos tempos de hoje, cheios de «novas realidades» e modernices quejandas? Antiga gente de esquerda, diz agora que a esquerda tem novas batalhas, e enumeram-nas: a ecologia, os gays, as drogas leves, tudo misturado numa caldeirada de «direitos humanos» em que os essenciais direitos são escamoteados. Com simpatia por todas as causas nobres, e mesmo algumas não tão nobres como isso, prefiro ater-me àquilo que desde há muito divide as forças políticas, com origem na separação das classes em confronto. A direita representa o capital, a esquerda os trabalhadores.
E prefiro também salientar as clarificações. Que as há. Há dias, o demissionário presidente do FMI, Horst Kölher, anunciou a sua candidatura à presidência da Alemanha.
Por outro lado, os comunistas gregos, apesar da derrota da «esquerda», reforçam-se com mais um deputado.


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