Haiti, ilha mártir (conclusão)
Depois de uma sucessão de golpes de estado – mais de 32 – a Garde d’Haiti (exército nacional), impôs, em 1957 e durante 30 anos, o regime dos Duvalier (pai e filho), ao gosto do Departamento de Estado dos EUA, da hierarquia católica e da burguesia comercial. Resultado: uma miséria impar e perto de 40 mil mortos (cálculo de 1985), causados pelos tonton-macoutes. Caído o ditador, que se refugia nos Estados Unidos, assume o governo o general Namphy, também duvalierista.
Após os sectores militares e ex tonton-macoutes terem impedido as eleições de 1987, finalmente, em 1988, é eleito Manigat, que será derrubado por Namphy, que por sua vez é derrubado pelo general Avril – também duvalierista – que é destituído pelo general Abraham, em Março de 1990. No final deste ano, o povo haitiano elege maciçamente (Dezembro, 1990) Bertrand Aristide, ex sacerdote partidário da Teologia da Libertação, que três anos antes tinha sido censurado pela hierarquia católica e excluído da Ordem dos Salesianos. Este é um Aristide…
Menos de um ano após a vitória eleitoral (Setembro, 2001), é apeado violentamente do poder pelo general Raoul Cedras. A Organização de Estados Americanos decreta um embargo faz-de-conta. Entretanto, surgem diligências no sentido de o reinstalar no poder.. mas domesticado. Num interregno político, Marc Bazin é eleito primeiro-ministro por 3% dos haitianos com direito a voto e renuncia pouco meses depois. Em Junho de 2003, na ONU, conversações indirectas entre Aristide e Cedras, que terminam num pacto: um Aristide controlado pelo império voltará ao poder (Outubro 1994, depois de nova invasão dos Estados Unidos à frente de uma força multinacional), a troco da amnistia para os golpistas. A violência continua, especialmente por parte da Frente Revolucionária para o Avanço e Progresso do Haiti – que utiliza métodos típicos
dos tonton-macoutes – e está acusada, pela Amnistia Internacional, de violações dos direitos humanos e do assassínio de milhares de seguidores de Aristide.
A nova versão de Aristide tem pouco espaço de manobra, ao contrário da oposição, que se mexe à vontade e com grande violência. Em 1995, René Préval, um pró Aristide, é eleito com 88% dos sufrágios emitidos e em 2001, uma vez mais, numas eleições boicotadas pela oposição e quase sem observadores internacionais, Aristide volta ao poder… sem poder para governar. Entretanto, repetem-se as tentativas de golpe de Estado, as de magnicídio e as manifestações violentas da oposição.
Uma oposição unida… pelo ódio a Aristide
Por um lado, está o Grupo dos 184 – formado por partidos políticos, organizações da sociedade civil, sindicatos operários e grémios patronais – cujo líder mais visível é André Apaid, homem de negócios, aparentemente desmarcado dos movimentos armados, mas afim no objectivo central: derrubar Aristide.
De outro lado, há dois grupos armados encabeçados por inimigos acérrimos, agora unidos: Louis Chamblain e Guy Philippe. Ao que parece, tudo tem um começo próximo com Butteur Metayer, cabecilha do levantamento de Gonaives, e figura central do Exército Canibal. Ex-aliado do governo, saltou para a oposição como consequência do assassinato do seu irmão, alegadamente ordenado pelo presidente. A rebelião ganhou força com o ingresso, desde a vizinha República Dominicana, de ex-militares golpistas ligados a Raoul Cedras, que são dirigidos por Chamblain, acusado de várias atrocidades durante os governos militares e suspeito de participar no massacre eleitoral do ano 87.
Guy Philippe recebeu treino militar nos Estados Unidos e no Equador. Foi igualmente funcionário de segurança em meados de 95 e conspirador contra o governo de então. É um dos fundadores da Frente Revolucionária para o Avanço e o Progresso do Haiti. Num panorama político onde não é difícil perder-se, os dois são aspirantes a governar o Haiti post-Aristide, mas não os únicos.
Este é o drama de Haiti, a primeira república negra do mundo.
Há 200 anos conquistou a independência política – não a manteve, é evidente – mas não a económica. Segundo a CEPAL, as «condições económicas tornaram-se ainda mais desfavoráveis. (…) Uma vez que se dá a emancipação política, os poderes europeus reagiram muito desfavoravelmente: cortaram o acesso de Haiti aos mercados internacionais» e aos apoios financeiros. Uma história conhecida.
Após os sectores militares e ex tonton-macoutes terem impedido as eleições de 1987, finalmente, em 1988, é eleito Manigat, que será derrubado por Namphy, que por sua vez é derrubado pelo general Avril – também duvalierista – que é destituído pelo general Abraham, em Março de 1990. No final deste ano, o povo haitiano elege maciçamente (Dezembro, 1990) Bertrand Aristide, ex sacerdote partidário da Teologia da Libertação, que três anos antes tinha sido censurado pela hierarquia católica e excluído da Ordem dos Salesianos. Este é um Aristide…
Menos de um ano após a vitória eleitoral (Setembro, 2001), é apeado violentamente do poder pelo general Raoul Cedras. A Organização de Estados Americanos decreta um embargo faz-de-conta. Entretanto, surgem diligências no sentido de o reinstalar no poder.. mas domesticado. Num interregno político, Marc Bazin é eleito primeiro-ministro por 3% dos haitianos com direito a voto e renuncia pouco meses depois. Em Junho de 2003, na ONU, conversações indirectas entre Aristide e Cedras, que terminam num pacto: um Aristide controlado pelo império voltará ao poder (Outubro 1994, depois de nova invasão dos Estados Unidos à frente de uma força multinacional), a troco da amnistia para os golpistas. A violência continua, especialmente por parte da Frente Revolucionária para o Avanço e Progresso do Haiti – que utiliza métodos típicos
dos tonton-macoutes – e está acusada, pela Amnistia Internacional, de violações dos direitos humanos e do assassínio de milhares de seguidores de Aristide.
A nova versão de Aristide tem pouco espaço de manobra, ao contrário da oposição, que se mexe à vontade e com grande violência. Em 1995, René Préval, um pró Aristide, é eleito com 88% dos sufrágios emitidos e em 2001, uma vez mais, numas eleições boicotadas pela oposição e quase sem observadores internacionais, Aristide volta ao poder… sem poder para governar. Entretanto, repetem-se as tentativas de golpe de Estado, as de magnicídio e as manifestações violentas da oposição.
Uma oposição unida… pelo ódio a Aristide
Por um lado, está o Grupo dos 184 – formado por partidos políticos, organizações da sociedade civil, sindicatos operários e grémios patronais – cujo líder mais visível é André Apaid, homem de negócios, aparentemente desmarcado dos movimentos armados, mas afim no objectivo central: derrubar Aristide.
De outro lado, há dois grupos armados encabeçados por inimigos acérrimos, agora unidos: Louis Chamblain e Guy Philippe. Ao que parece, tudo tem um começo próximo com Butteur Metayer, cabecilha do levantamento de Gonaives, e figura central do Exército Canibal. Ex-aliado do governo, saltou para a oposição como consequência do assassinato do seu irmão, alegadamente ordenado pelo presidente. A rebelião ganhou força com o ingresso, desde a vizinha República Dominicana, de ex-militares golpistas ligados a Raoul Cedras, que são dirigidos por Chamblain, acusado de várias atrocidades durante os governos militares e suspeito de participar no massacre eleitoral do ano 87.
Guy Philippe recebeu treino militar nos Estados Unidos e no Equador. Foi igualmente funcionário de segurança em meados de 95 e conspirador contra o governo de então. É um dos fundadores da Frente Revolucionária para o Avanço e o Progresso do Haiti. Num panorama político onde não é difícil perder-se, os dois são aspirantes a governar o Haiti post-Aristide, mas não os únicos.
Este é o drama de Haiti, a primeira república negra do mundo.
Há 200 anos conquistou a independência política – não a manteve, é evidente – mas não a económica. Segundo a CEPAL, as «condições económicas tornaram-se ainda mais desfavoráveis. (…) Uma vez que se dá a emancipação política, os poderes europeus reagiram muito desfavoravelmente: cortaram o acesso de Haiti aos mercados internacionais» e aos apoios financeiros. Uma história conhecida.