Algumas verdades sobre o Euro 2004
É conhecido que em Portugal os adeptos do desporto-rei pautaram (quase) sempre o seu comportamento pelo desfrutar do espectáculo em ambiente de brandos costumes.
À excepção de alguns (poucos) actos individuais irresponsáveis e de origem criminosa, a regra nunca extravasou as pacíficas invasões de campo, as pequenas escaramuças entre rivais, o inofensivo sopapo ao árbitro, os habituais epítetos aos agentes da força pública e já a jusante dos relvados o contributo na inflação das estatísticas sobre violência doméstica.
E diga-se, em abono da verdade, que os alvorotos mais graves, que diariamente fazem os escaparates da imprensa especializada e incendeiam as tribos, quase sempre e indiscriminadamente provêm de alguma escória que parasita à volta das carradas de pilim, que este mundo dito sui-generis movimenta.
Como se vê, coisas de pouca monta. Nada comparável com o que se passa nos países ditos civilizados. Como a Holanda, a Bélgica, a Alemanha e a Inglaterra, onde democraticamente foi cultivado o holliganismo, como expressão de muitos ismos, como racismos, nazismos e capitalismos, etc..
Mas então, se convivíamos com um experiente modelo de segurança público, que apesar dos depauperados meios e equipamentos e longe de ser virtuoso e eficaz, dava resposta aos conflitos e distúrbios que se iam registando nos relvados, no respeito pelos adeptos e liberdades individuais.
Indústria de milhões
Quais então as razões que determinaram a opção quase unânime por parte das estruturas do futebol, do capital financeiro, de polícias e militares instalados na segurança privada e por fim do Governo - em acatar a recomendação da UEFA na escolha do conceito inglês de segurança privada, conhecidos pelos «Stewarding’s».
A resposta a esta questão nuclear vem dos próprios responsáveis e de forma muito clara: para os dirigentes desportivos o futebol é uma indústria de milhões e telegenética e não permite concentrações policiais e a segurança privada é mais económica.
Aliás, a situação tem tanto de caricato como de grave quando, em Inglaterra, pioneira neste tipo de segurança, hoje trabalha-se para o regresso ao policiamento público, devido à constatação de que os «Stewrding’s» são impotentes para travar os descarrilamentos dos adeptos nas bancadas. Ou seja, os ingleses venderam a Portugal um sistema de segurança privada que eles próprios já estão a abandonar…
Afinal, o espectáculo, o aspecto lúdico desapareceu. O futebol é dinheiro e poder. O resto é conversa fiada.
E a confirmar a afirmação, aí estão as medidas legislativas e políticas apresentadas pelo Governo e tudo em nome do bem-estar dos espectadores e obviamente da nação: interdição do espaço Schengen, exercício ilegal de actividades no sector das comunicações e de recolha de informações, segurança dos estádios realizada por vigilantes sem formação e preparação específica, leis ditas contra a violência no desporto e onde estão previstas revistas ilegais, testes de alcoolémia e despistagem de drogas, expulsões e proibicismos de todo o tipo.
É o uso ilegítimo da força e a restrição dos direitos individuais dos espectadores. É o vexame e a humilhação dos adeptos e espectadores.
É este quadro, tendo por base a concepção ideológica do «estado policial», que o Governo reserva para as forças de segurança públicas.
Impor o silêncio
Às forças de segurança estão atribuídas as missões de «maus da fita» e as intervenções a quente, ou seja, a pura repressão com prejuízos para a imagem da polícia e dos seus agentes.
É sintomático o desprezo do Governo pelas forças de segurança do estado democrático e dos seus profissionais, que nenhuma legislação tenha sido parida para as dotar dos meios técnicos que contribuíssem para a operacionalidade e eficácia da sua actuação.
E quando as associações e sindicatos representativos das forças de segurança vêm a público manifestar as suas legítimas preocupações por atrasos e omissões, logo vem o ministro afirmar que é tudo falso e que «o mundo é redondo e tudo gira sobre rodas».
É sabido que o Governo quer impor o silêncio no Euro 2004. Quem tem preocupações sobre o caminho seguido e o estado lastimoso da organização e segurança em que se encontra o Europeu de futebol, é logo apelidado de antipatriota. É o truque para impedir que se conheçam as responsabilidades relevantes.
O ministro da Administração Interna e este Governo têm sido um tormento para os portugueses e para o País. Depois dos incêndios… ainda temos o Euro 2004. Até quando?
À excepção de alguns (poucos) actos individuais irresponsáveis e de origem criminosa, a regra nunca extravasou as pacíficas invasões de campo, as pequenas escaramuças entre rivais, o inofensivo sopapo ao árbitro, os habituais epítetos aos agentes da força pública e já a jusante dos relvados o contributo na inflação das estatísticas sobre violência doméstica.
E diga-se, em abono da verdade, que os alvorotos mais graves, que diariamente fazem os escaparates da imprensa especializada e incendeiam as tribos, quase sempre e indiscriminadamente provêm de alguma escória que parasita à volta das carradas de pilim, que este mundo dito sui-generis movimenta.
Como se vê, coisas de pouca monta. Nada comparável com o que se passa nos países ditos civilizados. Como a Holanda, a Bélgica, a Alemanha e a Inglaterra, onde democraticamente foi cultivado o holliganismo, como expressão de muitos ismos, como racismos, nazismos e capitalismos, etc..
Mas então, se convivíamos com um experiente modelo de segurança público, que apesar dos depauperados meios e equipamentos e longe de ser virtuoso e eficaz, dava resposta aos conflitos e distúrbios que se iam registando nos relvados, no respeito pelos adeptos e liberdades individuais.
Indústria de milhões
Quais então as razões que determinaram a opção quase unânime por parte das estruturas do futebol, do capital financeiro, de polícias e militares instalados na segurança privada e por fim do Governo - em acatar a recomendação da UEFA na escolha do conceito inglês de segurança privada, conhecidos pelos «Stewarding’s».
A resposta a esta questão nuclear vem dos próprios responsáveis e de forma muito clara: para os dirigentes desportivos o futebol é uma indústria de milhões e telegenética e não permite concentrações policiais e a segurança privada é mais económica.
Aliás, a situação tem tanto de caricato como de grave quando, em Inglaterra, pioneira neste tipo de segurança, hoje trabalha-se para o regresso ao policiamento público, devido à constatação de que os «Stewrding’s» são impotentes para travar os descarrilamentos dos adeptos nas bancadas. Ou seja, os ingleses venderam a Portugal um sistema de segurança privada que eles próprios já estão a abandonar…
Afinal, o espectáculo, o aspecto lúdico desapareceu. O futebol é dinheiro e poder. O resto é conversa fiada.
E a confirmar a afirmação, aí estão as medidas legislativas e políticas apresentadas pelo Governo e tudo em nome do bem-estar dos espectadores e obviamente da nação: interdição do espaço Schengen, exercício ilegal de actividades no sector das comunicações e de recolha de informações, segurança dos estádios realizada por vigilantes sem formação e preparação específica, leis ditas contra a violência no desporto e onde estão previstas revistas ilegais, testes de alcoolémia e despistagem de drogas, expulsões e proibicismos de todo o tipo.
É o uso ilegítimo da força e a restrição dos direitos individuais dos espectadores. É o vexame e a humilhação dos adeptos e espectadores.
É este quadro, tendo por base a concepção ideológica do «estado policial», que o Governo reserva para as forças de segurança públicas.
Impor o silêncio
Às forças de segurança estão atribuídas as missões de «maus da fita» e as intervenções a quente, ou seja, a pura repressão com prejuízos para a imagem da polícia e dos seus agentes.
É sintomático o desprezo do Governo pelas forças de segurança do estado democrático e dos seus profissionais, que nenhuma legislação tenha sido parida para as dotar dos meios técnicos que contribuíssem para a operacionalidade e eficácia da sua actuação.
E quando as associações e sindicatos representativos das forças de segurança vêm a público manifestar as suas legítimas preocupações por atrasos e omissões, logo vem o ministro afirmar que é tudo falso e que «o mundo é redondo e tudo gira sobre rodas».
É sabido que o Governo quer impor o silêncio no Euro 2004. Quem tem preocupações sobre o caminho seguido e o estado lastimoso da organização e segurança em que se encontra o Europeu de futebol, é logo apelidado de antipatriota. É o truque para impedir que se conheçam as responsabilidades relevantes.
O ministro da Administração Interna e este Governo têm sido um tormento para os portugueses e para o País. Depois dos incêndios… ainda temos o Euro 2004. Até quando?