Euforias versus depressões
A situação económica do País, as condições em que vivem os trabalhadores e a exploração até ao tutano de acontecimentos como os da Casa Pia, têm acentuado uma atitude de descrédito nas perspectivas de se sair da(s) crise(s).
O real é a degradação dos direitos sociais e da vida cultural
O matraquear de novos episódios, de dados estatísticos e previsões negras acentuam depressões individuais e colectivas. Mas não pode tal situação ser resumida ao quadro de duas diferentes atitudes: dum lado, mesmo com toda a objectividade, estariam os que contribuem para acentuar os traços negativos, do outro, aqueles a quem caberia, em patriótica tarefa, evidenciar as situações de êxito neste ou naquele caso concreto.
Ambas as atitudes têm a sua razão de ser mas não depende do sobrevalorizar cada uma delas em relação à outra a resolução das questões. Com mais murro ou menos murro, em sentido figurado, para tornar o discurso sugestivo. Aqui os alternantes estados de alma exigem outro tipo de antidepressivos.
O problema é político. É de política. É de políticos e de partidos concretos. É de empresários e das respectivas estratégias e atitudes concretas. Não se saia fora disso, não se pretenda que as questões se esgotem no plano psicoanalítico e psiquiátrico, nas consultas do Professor Karamba ou num comportamento menos bombástico da comunicação social que temos.
E, já agora, ao jornalista que na véspera de uma greve que se adivinhava de grande dimensão, insistia com o dirigente sindical perguntando-lhe o que é que a luta ia alterar, quando devia saber que os efeitos não seriam rigorosamente no dia seguinte, caberia sugerir que perguntasse o mesmo aos que nos últimos milhares de anos fizeram a História. Talvez até aprendesse que foram outras lutas que contribuíram para o nascimento e impacto social de actividades como a jornalística, que sempre devem cuidar de se defender e progredir para que as não liquidem por degenerescência.
A questão exige uma outra atitude perante diagnósticos que são conhecidos. Se face a eles, se realiza tal política, ela dá tal resultado. E, ou alteram a política que é manifestamente errada ou submetem-se à crítica da população tantas vezes feita até que a correlação de forças entre os diferentes protagonistas gere outros quadros políticos e outras políticas.
Os estados de euforia e auto-estima têm sido aproveitados ao longo destes anos para iludir o real.
E o real é a destruição do aparelho produtivo, o abaixamento dos níveis educativos, de formação e de capacidade de gerar inovação, qualificação, produtividade e competitividade, tanto mais necessárias quanto se perderam as rédeas da política monetária para jogar com as importações e exportações e os seus efeitos na economia.
O real é a degradação dos direitos sociais e da vida cultural.
O real é o permanecermos em atitudes subservientes nos processos de integração e fóruns onde a atitude dos governantes é sempre a de serem mais papistas que o Papa em nosso prejuízo final.
O real é sermos crescentemente subcontratados, manietados na nossa capacidade de afirmação e confronto ou cooperação com outros.
Quando acaba a Expo, o Euro 2004 e outros momentos de elevação da auto-estima, enquanto nada se faz (melhor, faz-se o contrário) para eliminar as nossas profundas debilidades estruturais, é evidente que a notícia passa a ser mais próxima do real, a estar mais atenta, mesmo em práticas sensacionalistas e de autoflagelação que vendem audiências, à degradação das condições de vida, aos despedimentos, aos crimes que diariamente se cometem em cada empresa encerrada, em cada prática de abusos de crianças e adultos.
Saber ler os sinais
Uma das vertentes da democracia é a eleição democrática dos órgãos de poder. Mesmo quando ela é fortemente condicionada pela mentira dominante, pela desigualdade de meios de expressão, pela capacidade das camadas dirigentes, que beneficiam deste estado de coisas, condicionarem a opinião pública com meios poderosos. Meios que não deixam também de bicar, de vez em quando, quem deles globalmente beneficia, para manter algumas margens de credibilidade. Mas que frequentemente se procura que sejam guardiões de um stato quo que é, cada vez mais, um regime alterado na sua essência democrática.
Uns e outros não terão deixado de ler os sinais da passada sexta-feira. Porque sabem da História que aqueles que com isto mais sofrem, desempenhando papel relevante na sociedade, têm condições para, não por afirmação de desespero mas por terem consciência do seu papel na economia e na sociedade, dizer «Basta!» e defrontar os autores da política reclamando outra política.
A greve da administração pública da passada sexta-feira e a Marcha Nacional pela Educação dessa tarde foram um bom exemplo de que não podem estar sossegados os que pactuam com a fraude e evasão fiscal para «congelarem» salários, direitos e qualidade do emprego.
Foram um cartão vermelho aos que «justificam» tais congelamentos com as correcções dos «excessos» dos últimos anos...
Foi um aviso aos que pretendem debilitar a administração pública, para a dominar, lhe reduzir entusiasmo e gosto, lhe limitar a capacidade de inovar cada vez mais em benefício dos serviços a todos os cidadãos e à economia.
Os que lutaram, lutaram não só por eles mas por todos. Se o governo consolidar as graves decisões para a administração pública que estão em cima da mesa, depressa medidas semelhantes serão tomadas noutros sectores e pela maioria do patronato que temos.
Esta luta é o melhor antidepressivo porque ajuda a criar as condições de alternativas que não permitam continuar a prolongar-se as causas destas alternâncias entre euforias (cada vez menos) e estados depressivos (cada vez mais).
Ambas as atitudes têm a sua razão de ser mas não depende do sobrevalorizar cada uma delas em relação à outra a resolução das questões. Com mais murro ou menos murro, em sentido figurado, para tornar o discurso sugestivo. Aqui os alternantes estados de alma exigem outro tipo de antidepressivos.
O problema é político. É de política. É de políticos e de partidos concretos. É de empresários e das respectivas estratégias e atitudes concretas. Não se saia fora disso, não se pretenda que as questões se esgotem no plano psicoanalítico e psiquiátrico, nas consultas do Professor Karamba ou num comportamento menos bombástico da comunicação social que temos.
E, já agora, ao jornalista que na véspera de uma greve que se adivinhava de grande dimensão, insistia com o dirigente sindical perguntando-lhe o que é que a luta ia alterar, quando devia saber que os efeitos não seriam rigorosamente no dia seguinte, caberia sugerir que perguntasse o mesmo aos que nos últimos milhares de anos fizeram a História. Talvez até aprendesse que foram outras lutas que contribuíram para o nascimento e impacto social de actividades como a jornalística, que sempre devem cuidar de se defender e progredir para que as não liquidem por degenerescência.
A questão exige uma outra atitude perante diagnósticos que são conhecidos. Se face a eles, se realiza tal política, ela dá tal resultado. E, ou alteram a política que é manifestamente errada ou submetem-se à crítica da população tantas vezes feita até que a correlação de forças entre os diferentes protagonistas gere outros quadros políticos e outras políticas.
Os estados de euforia e auto-estima têm sido aproveitados ao longo destes anos para iludir o real.
E o real é a destruição do aparelho produtivo, o abaixamento dos níveis educativos, de formação e de capacidade de gerar inovação, qualificação, produtividade e competitividade, tanto mais necessárias quanto se perderam as rédeas da política monetária para jogar com as importações e exportações e os seus efeitos na economia.
O real é a degradação dos direitos sociais e da vida cultural.
O real é o permanecermos em atitudes subservientes nos processos de integração e fóruns onde a atitude dos governantes é sempre a de serem mais papistas que o Papa em nosso prejuízo final.
O real é sermos crescentemente subcontratados, manietados na nossa capacidade de afirmação e confronto ou cooperação com outros.
Quando acaba a Expo, o Euro 2004 e outros momentos de elevação da auto-estima, enquanto nada se faz (melhor, faz-se o contrário) para eliminar as nossas profundas debilidades estruturais, é evidente que a notícia passa a ser mais próxima do real, a estar mais atenta, mesmo em práticas sensacionalistas e de autoflagelação que vendem audiências, à degradação das condições de vida, aos despedimentos, aos crimes que diariamente se cometem em cada empresa encerrada, em cada prática de abusos de crianças e adultos.
Saber ler os sinais
Uma das vertentes da democracia é a eleição democrática dos órgãos de poder. Mesmo quando ela é fortemente condicionada pela mentira dominante, pela desigualdade de meios de expressão, pela capacidade das camadas dirigentes, que beneficiam deste estado de coisas, condicionarem a opinião pública com meios poderosos. Meios que não deixam também de bicar, de vez em quando, quem deles globalmente beneficia, para manter algumas margens de credibilidade. Mas que frequentemente se procura que sejam guardiões de um stato quo que é, cada vez mais, um regime alterado na sua essência democrática.
Uns e outros não terão deixado de ler os sinais da passada sexta-feira. Porque sabem da História que aqueles que com isto mais sofrem, desempenhando papel relevante na sociedade, têm condições para, não por afirmação de desespero mas por terem consciência do seu papel na economia e na sociedade, dizer «Basta!» e defrontar os autores da política reclamando outra política.
A greve da administração pública da passada sexta-feira e a Marcha Nacional pela Educação dessa tarde foram um bom exemplo de que não podem estar sossegados os que pactuam com a fraude e evasão fiscal para «congelarem» salários, direitos e qualidade do emprego.
Foram um cartão vermelho aos que «justificam» tais congelamentos com as correcções dos «excessos» dos últimos anos...
Foi um aviso aos que pretendem debilitar a administração pública, para a dominar, lhe reduzir entusiasmo e gosto, lhe limitar a capacidade de inovar cada vez mais em benefício dos serviços a todos os cidadãos e à economia.
Os que lutaram, lutaram não só por eles mas por todos. Se o governo consolidar as graves decisões para a administração pública que estão em cima da mesa, depressa medidas semelhantes serão tomadas noutros sectores e pela maioria do patronato que temos.
Esta luta é o melhor antidepressivo porque ajuda a criar as condições de alternativas que não permitam continuar a prolongar-se as causas destas alternâncias entre euforias (cada vez menos) e estados depressivos (cada vez mais).