O cavalo e a seringa
Há, em Português, como provavelmente nas outras línguas todas, expressões engraçadas que, conforme a tecnologia e a História avançam, se vão também elas modificando, ou melhor, substituindo, para que dizê-las faça sentido. Estas três vieram-nos à ideia durante a semana que passou. E, enquanto uma vai perdendo o seu suporte na realidade, a outra tem ganho terreno na língua. Dizia-se, por exemplo, «tirar o cavalo da chuva», quando se queria exprimir a ideia de que alguém queria livrar-se de uma encrenca e parecer que nunca estivera atolado nela. Ou então «sacudir a água do capote», esta sugerindo já que a água poderia muito bem ir encharcar um incauto parceiro. Diz-se hoje «fugir com o rabo à seringa».
Compreendem-se as «mutações». Se a chuva continua a cair, por mais ácida que tenha vindo a tornar-se, já os cavalos são muito mais raros do que foram entre a humana gente, confinados às charangas e às fanfarras e menos ao trabalho e às batalhas. Quanto ao capote, foi há muito substituído pela leveza dos plásticos. A seringa, porém, é objecto de muito uso. Quanto ao rabo nem vale a pena falar.
É por isso que, quando soubemos que Colin Powell, o tal que aqui há tempos veio à televisão de todo o mundo tentar convencer-nos de que havia no Iraque armas de destruição maciça, amparando-se em bonecos animados, admitia agora que não as havia, embora deixasse a «questão em aberto», logo nos veio à memória as tais frases. O homem está a fugir com o rabo à seringa, pensámos, dando às palavras o toque de modernidade suficiente. Ou então: Cá está mais um a tirar o cavalo da chuva. Mas a expressão mais acertada será: Olha para este a sacudir a água do capote...
É que alguém vai molhar-se com as pingas que Powell sacode.
Bush, por exemplo, que aparece cada vez mais fundo, mergulhado nas águas que fez chover. Em ano de eleições, assiste-se a sucessivas demissões de amigos seus. Os adversários não deixarão de aproveitar-se. Mas a verdade é que eles todos, republicanos e democratas, andaram à chuva. E molharam-se.
Compreendem-se as «mutações». Se a chuva continua a cair, por mais ácida que tenha vindo a tornar-se, já os cavalos são muito mais raros do que foram entre a humana gente, confinados às charangas e às fanfarras e menos ao trabalho e às batalhas. Quanto ao capote, foi há muito substituído pela leveza dos plásticos. A seringa, porém, é objecto de muito uso. Quanto ao rabo nem vale a pena falar.
É por isso que, quando soubemos que Colin Powell, o tal que aqui há tempos veio à televisão de todo o mundo tentar convencer-nos de que havia no Iraque armas de destruição maciça, amparando-se em bonecos animados, admitia agora que não as havia, embora deixasse a «questão em aberto», logo nos veio à memória as tais frases. O homem está a fugir com o rabo à seringa, pensámos, dando às palavras o toque de modernidade suficiente. Ou então: Cá está mais um a tirar o cavalo da chuva. Mas a expressão mais acertada será: Olha para este a sacudir a água do capote...
É que alguém vai molhar-se com as pingas que Powell sacode.
Bush, por exemplo, que aparece cada vez mais fundo, mergulhado nas águas que fez chover. Em ano de eleições, assiste-se a sucessivas demissões de amigos seus. Os adversários não deixarão de aproveitar-se. Mas a verdade é que eles todos, republicanos e democratas, andaram à chuva. E molharam-se.