Ópio Afegão
Será o Irão a próxima vítima dos EUA
O relatório anual do Gabinete da ONU para a Droga e o Crime (UNODC) afirma que o Afeganistão voltou a ser o principal produtor mundial de ópio, a partir do qual se produz a mais viciante e mortífera das drogas de grande circulação: a heroína. A economia do ópio afegão representa hoje 2 300 milhões de dólares, ou seja, metade do Produto Interno Bruto do Afeganistão (Le Monde, 30.10.03). Em 2002, a produção de ópio no Afeganistão «correspondia já a 75% da produção mundial» (Reuters, 29.10.03). Segundo o Economist (27.02.02), 80% da heroína vendida na Europa Ocidental é proveniente do Afeganistão. A UNODC afirma que «a droga é uma ameaça para a paz e a segurança no Afeganistão, e para além das suas fronteiras» (Le Monde) e «arrisca-se a transformar o maior fornecedor mundial num Estado de narco-terroristas e cartéis da droga» (Reuters).
O Afeganistão de que se fala não é o dos Talibãs. Este Afeganistão que «ameaça a paz e a segurança» e pode transformar-se num «Estado de narco-terroristas» é o Afeganistão que emergiu da «vitoriosa» guerra dos EUA “contra o terrorismo” e que se encontra hoje sob a ocupação «ocidental».
O referido Economist escreve: «o ópio é cultivado e consumido desde há séculos no Afeganistão – mas apenas durante a guerra que começou em 1979 se tornou numa cultura tão importante». Foi nesse ano, seis meses antes dos soviéticos entrarem no Afeganistão, que «o Presidente Carter assinou a primeira directriz sobre a ajuda clandestina aos opositores do regime pró-soviético de Cabul» (Zbigniew Brzezinski, Conselheiro de Segurança Nacional do ex-Presidente Carter, falando ao Nouvel Observateur, 15.01.98). O financiamento dos fundamentalistas islâmicos que combatiam o regime revolucionário do Afeganistão fez-se, também, por via da droga «em particular durante os anos 90, quando o fim da ocupação soviética levou os Americanos e outros apoiantes dos mudjahedines afegãos a fechar a torneira dos financiamentos» (Economist, 27.02.02). São estes mudjahedines os actuais aliados locais das tropas de ocupação ocidentais. O Economist acrescenta que, logo após a chegada ao poder dos talibãs, os níveis de produção cresceram. «Mas em Setembro de 1999 os talibã emitiram um decreto ordenando a todos os camponeses cultivadores de papoilas para reduzirem a área de produção em um terço. [...] No ano seguinte os talibãs foram mais longe. Em Julho de 2000, o mulá Mohammad Omar, o seu dirigente, impôs uma proibição total ao cultivo da papoila. [...] A área cultivada diminuiu, de mais de 80 mil hectares para menos de 8 mil. A produção de ópio em bruto caiu do seu auge de 4 600 toneladas em 1999 para apenas 200 toneladas». Logo após o maior êxito jamais alcançado no combate à droga (com a quebra em mais de 95% da produção no país responsável por 75% da produção mundial de ópio) os EUA lançam a guerra, ocupam o Afeganistão, trazem de volta os mudjahedines e os 75% da produção mundial.
A história não é inédita. Durante as suas guerras no Sudeste Asiático, nos anos 60 e 70, os EUA organizaram exércitos mercenários contra-revolucionários com base no financiamento proveniente do tráfico de droga. O cenário repetiu-se na Nicarágua nos anos 80 e no Kosovo nos anos 90. Para além das «vantagens» políticas no terreno, há as sempre-presentes vantagens financeiras: «o tráfico de drogas ilegais movimenta cerca de 400 mil milhões de dólares por ano – cerca de 8 por cento do comércio mundial e mais do que o comércio em ferro, ou em aço, ou em veículos automóveis» (Financial Times, 26.6.98). Deste tráfico sai a lavagem de dinheiro, que vai parar ao mui respeitável «sistema financeiro internacional».
Entretanto, o «mais bem sucedido» combate ao tráfico de droga nos países fronteiriços do Afeganistão é o do Irão, «que o ano passado apanhou 200 toneladas de ópio», tendo «mais de 3000 soldados [desse país] sido mortos por traficantes» (editorial do Financial Times, 28.02.00). Será o Irão a próxima vítima dos EUA.
O Afeganistão de que se fala não é o dos Talibãs. Este Afeganistão que «ameaça a paz e a segurança» e pode transformar-se num «Estado de narco-terroristas» é o Afeganistão que emergiu da «vitoriosa» guerra dos EUA “contra o terrorismo” e que se encontra hoje sob a ocupação «ocidental».
O referido Economist escreve: «o ópio é cultivado e consumido desde há séculos no Afeganistão – mas apenas durante a guerra que começou em 1979 se tornou numa cultura tão importante». Foi nesse ano, seis meses antes dos soviéticos entrarem no Afeganistão, que «o Presidente Carter assinou a primeira directriz sobre a ajuda clandestina aos opositores do regime pró-soviético de Cabul» (Zbigniew Brzezinski, Conselheiro de Segurança Nacional do ex-Presidente Carter, falando ao Nouvel Observateur, 15.01.98). O financiamento dos fundamentalistas islâmicos que combatiam o regime revolucionário do Afeganistão fez-se, também, por via da droga «em particular durante os anos 90, quando o fim da ocupação soviética levou os Americanos e outros apoiantes dos mudjahedines afegãos a fechar a torneira dos financiamentos» (Economist, 27.02.02). São estes mudjahedines os actuais aliados locais das tropas de ocupação ocidentais. O Economist acrescenta que, logo após a chegada ao poder dos talibãs, os níveis de produção cresceram. «Mas em Setembro de 1999 os talibã emitiram um decreto ordenando a todos os camponeses cultivadores de papoilas para reduzirem a área de produção em um terço. [...] No ano seguinte os talibãs foram mais longe. Em Julho de 2000, o mulá Mohammad Omar, o seu dirigente, impôs uma proibição total ao cultivo da papoila. [...] A área cultivada diminuiu, de mais de 80 mil hectares para menos de 8 mil. A produção de ópio em bruto caiu do seu auge de 4 600 toneladas em 1999 para apenas 200 toneladas». Logo após o maior êxito jamais alcançado no combate à droga (com a quebra em mais de 95% da produção no país responsável por 75% da produção mundial de ópio) os EUA lançam a guerra, ocupam o Afeganistão, trazem de volta os mudjahedines e os 75% da produção mundial.
A história não é inédita. Durante as suas guerras no Sudeste Asiático, nos anos 60 e 70, os EUA organizaram exércitos mercenários contra-revolucionários com base no financiamento proveniente do tráfico de droga. O cenário repetiu-se na Nicarágua nos anos 80 e no Kosovo nos anos 90. Para além das «vantagens» políticas no terreno, há as sempre-presentes vantagens financeiras: «o tráfico de drogas ilegais movimenta cerca de 400 mil milhões de dólares por ano – cerca de 8 por cento do comércio mundial e mais do que o comércio em ferro, ou em aço, ou em veículos automóveis» (Financial Times, 26.6.98). Deste tráfico sai a lavagem de dinheiro, que vai parar ao mui respeitável «sistema financeiro internacional».
Entretanto, o «mais bem sucedido» combate ao tráfico de droga nos países fronteiriços do Afeganistão é o do Irão, «que o ano passado apanhou 200 toneladas de ópio», tendo «mais de 3000 soldados [desse país] sido mortos por traficantes» (editorial do Financial Times, 28.02.00). Será o Irão a próxima vítima dos EUA.