Vá lá a gente entendê-los!
O texto de Álvaro Cunhal, «O Mundo de Hoje», que o Avante! publicou há uma semana, suscitou um interesse generalizado, traduzido em apreciações e leituras as mais diversas e díspares por parte da comunicação social. Tudo natural e sem surpresas: quer o interesse pelo texto, quer as disparidades constatadas.
Atentemos no inimitável Público: em três dias sucessivos, debruçou-se sobre a questão e produziu quatro peças que, no seu conjunto, constituem uma hilariante exibição de anticomunismo paleolítico. Abrindo uma excepção à sua tradicional abordagem de questões ligadas ao PCP, o Público começou por informar, bem!, no dia 7, que «Cunhal acusa EUA de ser ‘principal força do terrorismo’». Tal excepção há-de ter feito soar alarmes dado que entrou em cena, pela esquerda baixa, uma pêcêpóloga veterana que deitou mãos à obra de repor as normas da casa. Frenética, a veterana entrou em parafuso e deu à luz, no dia seguinte, um texto delirante no qual abundam conclusões espectaculares, nomeadamente a de que «Cunhal abandona o hífen do marxismo-leninismo» - ou seja, abandona o marxismo-leninismo. Conclui ela também que, na luta para «impedir que o imperialismo alcance o seu supremo objectivo», Cunhal – surpresa das surpresas! - «reconhece um papel aos movimentos pacifistas» - ou seja, os comunistas portugueses (que sempre ocuparam a primeira linha da luta pela paz) não reconheciam nenhum papel aos movimentos pacifistas...
A tamanho destempero analítico respondeu Álvaro Cunhal, pondo os pontos nos ii. Não obstante, a intrépida pêcêpóloga, fingindo não ter lido a nota de Álvaro Cunhal, coloca-o em primeiro lugar na sua coluna de «Sobe e desce» - um encomiástico primeiro lugar, já que se trata de premiar a mudança de pensamento por ela atribuída a Álvaro Cunhal...
Por seu lado mas na mesma linha, o Expresso, página 5, faz suas as teses da mudança de pensamento de Álvaro Cunhal vertidas no Público, complementando-as com as inevitáveis opiniões de «militantes e dirigentes» - todos anónimos, como é hábito da casa em matéria de fontes - aos quais e segundo os quais o artigo publicado no Avante! «causou perplexidade» e «gerou incomodidades e interrogações no seio do partido». No entanto, na coluna «Altos & Baixos», o Expresso, página 7, penaliza Álvaro Cunhal por ter escrito «um texto onde demonstra que o seu pensamento se mantém imutável»... Vá lá a gente entendê-los e ao seu conceito de jornalismo.
Atentemos no inimitável Público: em três dias sucessivos, debruçou-se sobre a questão e produziu quatro peças que, no seu conjunto, constituem uma hilariante exibição de anticomunismo paleolítico. Abrindo uma excepção à sua tradicional abordagem de questões ligadas ao PCP, o Público começou por informar, bem!, no dia 7, que «Cunhal acusa EUA de ser ‘principal força do terrorismo’». Tal excepção há-de ter feito soar alarmes dado que entrou em cena, pela esquerda baixa, uma pêcêpóloga veterana que deitou mãos à obra de repor as normas da casa. Frenética, a veterana entrou em parafuso e deu à luz, no dia seguinte, um texto delirante no qual abundam conclusões espectaculares, nomeadamente a de que «Cunhal abandona o hífen do marxismo-leninismo» - ou seja, abandona o marxismo-leninismo. Conclui ela também que, na luta para «impedir que o imperialismo alcance o seu supremo objectivo», Cunhal – surpresa das surpresas! - «reconhece um papel aos movimentos pacifistas» - ou seja, os comunistas portugueses (que sempre ocuparam a primeira linha da luta pela paz) não reconheciam nenhum papel aos movimentos pacifistas...
A tamanho destempero analítico respondeu Álvaro Cunhal, pondo os pontos nos ii. Não obstante, a intrépida pêcêpóloga, fingindo não ter lido a nota de Álvaro Cunhal, coloca-o em primeiro lugar na sua coluna de «Sobe e desce» - um encomiástico primeiro lugar, já que se trata de premiar a mudança de pensamento por ela atribuída a Álvaro Cunhal...
Por seu lado mas na mesma linha, o Expresso, página 5, faz suas as teses da mudança de pensamento de Álvaro Cunhal vertidas no Público, complementando-as com as inevitáveis opiniões de «militantes e dirigentes» - todos anónimos, como é hábito da casa em matéria de fontes - aos quais e segundo os quais o artigo publicado no Avante! «causou perplexidade» e «gerou incomodidades e interrogações no seio do partido». No entanto, na coluna «Altos & Baixos», o Expresso, página 7, penaliza Álvaro Cunhal por ter escrito «um texto onde demonstra que o seu pensamento se mantém imutável»... Vá lá a gente entendê-los e ao seu conceito de jornalismo.