Viva o 7 de Novembro!

Albano Nunes

Prossegue por toda a parte a resistência e a luta dos trabalhadores e dos povos

A evocação do 7 de Novembro de 1917, quando o proletariado russo se lançou à «conquista do céu», é uma boa tradição dos comunistas portugueses.
Porque a fundação do PCP, sendo criação da classe operária de Portugal, está estreitamente ligada à primeira revolução socialista vitoriosa. Porque a Revolução de Outubro tem tudo a ver com os ideais libertadores do PCP, com a sua concreta identidade comunista, com o seu projecto de uma sociedade sem exploradores nem explorados. Porque foi o maior acontecimento revolucionário do século XX e o empreendimento a que deu lugar, a URSS, desempenhou um papel determinante na marcha do mundo. Evocação tanto mais necessária quanto, um século que começou com esses majestosos «dez dias que abalaram o mundo» terminou com dramáticas derrotas do socialismo e uma gigantesca campanha visando desacreditar os ideais e o projecto comunista, destruir os partidos comunistas, criminalizar o marxismo-leninismo, fomentar sentimentos de impotência, de capitulação, de adaptação ao sistema.

A luta ideológica em torno da importância e significado histórico da Revolução de Outubro, que começou antes do assalto ao Palácio de Inverno, continua hoje sob renovadas formas. Intervimos nesta luta pondo em evidência tanto as expressões de extraordinária generosidade e criatividade revolucionária que Outubro pôs em marcha, como o papel internacional da URSS com as suas realizações e a sua política de paz e de solidariedade internacionalista. E sublinhando aquilo que é já hoje uma evidência: a desagregação da URSS e as derrotas do socialismo, e com elas o desaparecimento do contrapeso que mantinha em respeito o imperialismo, está a significar grandes tragédias e recuos de civilização. É uma realidade que o processo de construção da nova sociedade se revelou mais complexo e acidentado que o previsto e que no país de Lénine se verificaram atrasos, erros e deformações que, no quadro de duríssimo confronto com o imperialismo, conduziram à derrota. Mas como desde logo o XIII Congresso do PCP concluiu, o que fracassou não foi o socialismo, mas um «modelo» que se afastou e contrariou valores e características sempre afirmadas de uma sociedade socialista.

O projecto comunista, enriquecido com as experiências, positivas e negativas, dos primeiros empreendimentos de socialismo, está mais actual do que nunca. O capitalismo está a agravar os problemas da Humanidade. Aprofunda-se a sua crise. Agudizam-se velhas e novas contradições. No quadro de uma mesma política de classe, manifestam-se duras disputas entre as grandes potências imperialistas. Simultaneamente, prossegue por toda a parte a resistência e a luta dos trabalhadores e dos povos. O alargamento da oposição ao neoliberalismo e à guerra tem um conteúdo claramente anti-capitalista.

A correlação de forças continua desfavorável às forças do progresso social e o imperialismo, enfrentando embora sérios reveses, como no Iraque, continua na ofensiva. Vivemos ainda uma fase de resistência e de acumulação de forças que exige grande firmeza de princípios e tenacidade. Mas há potencialidades, inscritas nas próprias contradições e limites do capitalismo que, em expressões diversificadas e mesmo inéditas, afloram um pouco por todos os continentes confirmando que é real a possibilidade de conter e derrotar o imperialismo, de avançar e vencer luta pelo socialismo.
A história do movimento operário regista outros períodos não menos difíceis que aquele que hoje vivemos. A revolução russa de 1905 foi esmagada e uma onda de obscurantismo varreu o país, mas doze anos depois o partido bolchevique conquistava o poder. Do mesmo modo que em Cuba, da derrota de Moncada à entrada triunfante em Havana dos guerrilheiros da Sierra Maestra passaram apenas seis anos. A lição é evidente: a firmeza das convicções e a persistência na luta acabarão por triunfar.


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