Ditos e vocalizações
Venho tendo regularmente a impressão de que não escrevo sobre o que, na realidade, gostaria; de que não falo do que seria talvez preciso; de que não abordo o que, de facto, parece ser importante para a maioria dos leitores. E, interrogando-me sobre este desvio ou esta fuga ao essencial, não encontro se não uma desculpa um tanto esfarrapada - é que quase ninguém o faz. Pobre mortal, como tantos outros, sou talvez influenciado pelo estilo das mensagens que os órgãos de comunicação produzem, realçando recados herméticos ou, pelo menos, misteriosos.
É claro que este estilo já pegou há muito, não veio com as primeiras chuvas de Outono. Mas, tal como a água mole em pedra dura tanto dá até que fura, o mais resistente acaba por se enredar nas palavras que ouve ou, se calhar, é atingido por elas com uma desmedida atenção.
Recusando embora escrever sobre o caso do ano - estão a ver? - não deixo de evocar em minha defesa as palavras de Ferro Rodrigues, as primeiras, se calhar, de uma série de enigmas. Disse ele, a páginas primeiras da «novela judiciária» que aquele iria ser o «combate da sua vida». Estranhei. Seria de política que estava a falar? De oposição à política de direita? Nem comento as palavras, talvez abusivamente escutadas e que fizeram parangonas na generalidade dos jornais, promovidos quase todos ao sensacionalismo mais barato.
Depois veio Mário Soares, que passou a usar provérbios para enviar os seus recados mais contundentes. «Quem tem medo compra um cão», afirmou, peremptório. Alguns socialistas ter-se-ão interrogado se o cão seria obrigatório. Se, à falta de cão, não se poderia caçar com um gato. Mais adiante, Mário Soares tornou: «Pela boca morre o peixe.» Aqui o recado, admito, foi mais preciso e emudeceu alguns. Mas logo a vozearia recrudesceu. Há dias, espanto meu, ouvi umas frases soltas de Guterres, a um passo da reeleição - dali não foge ele - para a presidência da Internacional Socialista. Dizia o ex-Primeiro que «a direita faz política com cálculo»; e que «a esquerda faz política com alma». Tradução, por favor!
Do Presidente da República não falo. Ele foi capaz, numa entrevista televisionada, de agradar aos partidos do Governo e aos da oposição - com a devida excepção dos comunistas. Mas esses...
A frase, porém, que mais me tocou terá sido a resposta à enormíssima vaia que saudou a presença de Durão Barroso na inauguração do novo estádio da Luz. «Viva o Benfica», gritou, «Viva Portugal!» A vaia engoliu em seco, estarrecida. E recomeçou com mais força.
É claro que este estilo já pegou há muito, não veio com as primeiras chuvas de Outono. Mas, tal como a água mole em pedra dura tanto dá até que fura, o mais resistente acaba por se enredar nas palavras que ouve ou, se calhar, é atingido por elas com uma desmedida atenção.
Recusando embora escrever sobre o caso do ano - estão a ver? - não deixo de evocar em minha defesa as palavras de Ferro Rodrigues, as primeiras, se calhar, de uma série de enigmas. Disse ele, a páginas primeiras da «novela judiciária» que aquele iria ser o «combate da sua vida». Estranhei. Seria de política que estava a falar? De oposição à política de direita? Nem comento as palavras, talvez abusivamente escutadas e que fizeram parangonas na generalidade dos jornais, promovidos quase todos ao sensacionalismo mais barato.
Depois veio Mário Soares, que passou a usar provérbios para enviar os seus recados mais contundentes. «Quem tem medo compra um cão», afirmou, peremptório. Alguns socialistas ter-se-ão interrogado se o cão seria obrigatório. Se, à falta de cão, não se poderia caçar com um gato. Mais adiante, Mário Soares tornou: «Pela boca morre o peixe.» Aqui o recado, admito, foi mais preciso e emudeceu alguns. Mas logo a vozearia recrudesceu. Há dias, espanto meu, ouvi umas frases soltas de Guterres, a um passo da reeleição - dali não foge ele - para a presidência da Internacional Socialista. Dizia o ex-Primeiro que «a direita faz política com cálculo»; e que «a esquerda faz política com alma». Tradução, por favor!
Do Presidente da República não falo. Ele foi capaz, numa entrevista televisionada, de agradar aos partidos do Governo e aos da oposição - com a devida excepção dos comunistas. Mas esses...
A frase, porém, que mais me tocou terá sido a resposta à enormíssima vaia que saudou a presença de Durão Barroso na inauguração do novo estádio da Luz. «Viva o Benfica», gritou, «Viva Portugal!» A vaia engoliu em seco, estarrecida. E recomeçou com mais força.