O muro
É claro que a pena electrónica me pende para escrever sobre coisas que, de tão estafadas, me fariam sentir como que a chover no molhado. O que vale dizer que serviriam de pouco, ou mesmo de nada, já que de pouco valem estas linhas (a modéstia não é falsa, podem crer...). O que me vem à ideia é a «novela judicial», se me é lícito usar uma expressão do Presidente da República. Ou o 25.º aniversário do pontificado de João Paulo II, esse sobrevivente dos quatro «cavaleiros do Apocalipse» - Reagan, atingido por Alzeimer, já se esqueceu de tudo, Tatcher foi para a reforma mas tem a satisfação de ver a sua obra continuada por Tony Blair, Gorbatchov lá anda a vender as suas pizas americanas, só o Papa resiste sob a pressão de Parkinson.
Mas não me vou meter nisso. Ainda assim, colateralmente - porque o apocalipse do século XX foi marcado pelo tropel americano sobre as ruínas de um muro -, vou falar de muros.
Isto a propósito daquele que o Estado de Israel anda a construir na Palestina, com o pretexto de que os palestinianos não respeitam fronteiras. Claro que as tropas de Ariel alçam a perna - ou vão de helicóptero - e passam o muro que constroem, para derrubarem casas e mesmo bairros palestinos.
Construir muros é mesmo próprio do homem. Um artefacto que serve não só para promover e sublinhar uma separação, mas que, na maioria dos casos serve para alguém se defender do próximo, porque o próximo lhe surge como ameaçador - da sua paz, da sua propriedade, do seu modo de vida, da sua vida. E não deixo de recuar, tanto quanto a memória aprendida me permite, a muros e muralhas laboriosamente erguidos, a custo de tanto suor e sangue. A China rodeou-se de muralhas, começadas milénios atrás. Não bastaram para que os mongóis desistissem e hoje o país alastra muitas léguas para fora da vetusta construção. Adriano atarefou-se a construir a sua e assinalou desse modo, de uma pedrada, o fim da expansão romana e o início da queda do império. Hoje, derrubado o muro que defendia o socialismo, os Estados Unidos levantam o muro mais expenso que os tempos modernos conhecem, para se «defenderem» da imigração mexicana. E Israel constrói o seu para confinar os palestinianos em ghettos. Que é feito da pregoada «globalização»?
Mas não me vou meter nisso. Ainda assim, colateralmente - porque o apocalipse do século XX foi marcado pelo tropel americano sobre as ruínas de um muro -, vou falar de muros.
Isto a propósito daquele que o Estado de Israel anda a construir na Palestina, com o pretexto de que os palestinianos não respeitam fronteiras. Claro que as tropas de Ariel alçam a perna - ou vão de helicóptero - e passam o muro que constroem, para derrubarem casas e mesmo bairros palestinos.
Construir muros é mesmo próprio do homem. Um artefacto que serve não só para promover e sublinhar uma separação, mas que, na maioria dos casos serve para alguém se defender do próximo, porque o próximo lhe surge como ameaçador - da sua paz, da sua propriedade, do seu modo de vida, da sua vida. E não deixo de recuar, tanto quanto a memória aprendida me permite, a muros e muralhas laboriosamente erguidos, a custo de tanto suor e sangue. A China rodeou-se de muralhas, começadas milénios atrás. Não bastaram para que os mongóis desistissem e hoje o país alastra muitas léguas para fora da vetusta construção. Adriano atarefou-se a construir a sua e assinalou desse modo, de uma pedrada, o fim da expansão romana e o início da queda do império. Hoje, derrubado o muro que defendia o socialismo, os Estados Unidos levantam o muro mais expenso que os tempos modernos conhecem, para se «defenderem» da imigração mexicana. E Israel constrói o seu para confinar os palestinianos em ghettos. Que é feito da pregoada «globalização»?