Os ecos de Bush
Face ao aumento do número dos que, em todo o mundo, entendem os argumentos de Bush como um atentado às suas inteligências e, por isso, dizem «não!» a mais uma carnificina no Iraque, cresce o incómodo e a irritação dos homens de mão, dos lacaios, dos porta-vozes do Império. Os chefes de governo (género Barroso, Blair, Aznar e Cia.) que fazem da genuflexão perante o Chefe imperial o seu modo de governar, gaguejam cada vez mais e cada vez mais aumentam a insolência e a arrogância. Os editorialistas e comentadores (género Fernandes, Viegas, Delgado e Cia.) que, inutilmente, espremem as meninges em busca de um átomo de razão democrática, enervam-se, insultam, ameaçam e, mostrando as suas verdadeiras faces e os seus verdadeiros desejos, apelam à guerra, às bombas, ao sangue, à morte. As manifestações do último fim de semana, com muitos milhões de pessoas nas ruas expressando opiniões contrárias às que eles têm vindo a decretar, hão-de tê-los irritado sobremaneira. Ao que parece, a posição da Direcção do PS, contrária à gigantesca manifestação de Lisboa, deu-lhes algum consolo – o que só confirma o estado de desconsolo a que chegaram já que, bem vistas as coisas, também nesta matéria nada mudou no PS: desde Mário Soares até Ferro Rodrigues, passando por todos os restantes secretários-gerais, as direcções do PS sempre estiveram com o amigo americano e sempre contaram, também, com o bónus de algumas oportunas expressão públicas de desagrado com tal amizade – assim, e em simultâneo, agradando ao Tio Sam e alimentando a conveniente imagem de esquerda do PS.
Voltando à matéria de primeiro: desunham-se todos eles (homens de mão, lacaios, porta-vozes do Império e Cia.), informando-nos que Saddam é um ditador – informação que os leva a concluir (aliás, seguindo um processo de inteligenciação muito usado no antigamente) que quem está contra o bombardeamento do Iraque está a favor de Saddam e, portanto, a favor das ditaduras... E escrevem e falam e apontam em tom ameaçador, exibindo posturas igualmente copiadas dos tempos salazarentos, chegando ao ponto de verberarem a esquerda pelo facto de haver pessoas de direita que estão contra a guerra e contra ela se manifestam. Há, até, quem, delirando, nisso encontre pretexto para falar numa «união nacional»...
Não há dúvida: à força de tanto repetirem o Presidente dos EUA, os seus ecos portugueses absorveram e assimilaram a inteligência, o saber, a cultura de George W. Bush.