CineAvante!

O Cinema libertado

O CineAvante!, como toda a Festa deste ano, foi diferente. Autonomizou-se do Espaço Central. Ganhou destaque no programa cultural oferecido nos três dias do evento. Foi pela primeira vez ao ar livre, na cavidade de pequena profundidade junto ao lago. Os visitantes responderam bem. Desta vez, não houve conversas com convidados que trabalharam nos filmes ou que os vêm comentar, um suplemento que atrai visitantes às sessões de cinema. Mas tendo sido feitas «nestes moldes, nesta nova localização, e considerando a afluência geral, as sessões foram bem participadas», disse a responsável pelo CineAvante!, Catarina Cardoso. Em alguns casos, como na sessão de abertura, na sexta-feira, com Santiago, Itália (2018) de Nanni Moretti, os bancos disponibilizados foram quase todos ocupados. Apenas os assentos na bancada ficaram livres. Esses outros lugares foram usados nas já habituais sessões de cinema de animação infantil, programadas pela Monstra – Festival de Animação de Lisboa nas manhãs de sábado e domingo.

O cumprimento das medidas sanitárias foi um desafio vencido com a necessária organização. O ambiente foi de confiança e tranquilidade. «As pessoas estavam à vontade, com espaço suficiente para se sentirem seguras», comentou Catarina. Para esse efeito foram mobilizados assistentes de plateia. Tinham a tarefa de organizar a presença dos espectadores de modo sereno e pedagógico, procurando o respeito pelos circuitos definidos e aconselhando a regular higienização das mãos. A responsável dos turnos de assistentes de plateia, Elsa Maria Arruda, salientou «o sentido de dever e empenho por parte de camaradas e amigos que assumiram esta tarefa, com a convicção de que estavam a contribuir para que tudo corresse bem na Festa». O arranjo dos lugares sentados tornou «fácil a gestão do distanciamento físico», acrescentou.

Uma amiga do PCP, que já tinha participado uma vez nas jornadas de trabalho, voltou a participar este ano e foi uma das assistentes de plateia. Apreciadora do cinema ao ar livre, ela destacou «o enquadramento na paisagem e a abertura do espaço que permitiu que o cinema chamasse as pessoas que estavam a circular». Na sua experiência durante a implantação do espaço da Organização Regional de Lisboa, marcou-a «o valor do trabalho colectivo». Foi muito bem acolhida e sentiu que o seu contributo «foi reconhecido, sem pressões nem perguntas».

O CineAvante! de 2020 foi diferente, mas continuou o essencial do trabalho realizado nas edições anteriores: o cinema como campo artístico de encontros de povos e culturas, cruzamentos de realidades históricas, criação e fruição humanista e emancipatória. A humanidade reflecte sobre si própria de forma criativa e sensível através da arte cinematográfica, elevando a consciência da classe trabalhadora e capacitando-a criticamente. A cultura é uma componente essencial do progresso democrático, do socialismo. Durante a projecção de Memórias de um Futuro Radioso (2014) de José Vieira, ouviram-se comentários sobre o confronto com as miseráveis condições de vida dos emigrantes portugueses e romenos em Massy, nos subúrbios do sul de Paris. Este filme é, aliás, um exemplo de um notável documentário poucas vezes mostrado em Portugal e nenhuma delas na RTP.

Falando com visitantes, percebeu-se que a aposta no cinema ao ar livre foi ganha, funcionando particularmente bem ao fim da tarde e à noite. Um local em sombra talvez seja mais adequado para a projecção e mais cómodo para os espectadores. Há zonas com essas características, nomeadamente as que foram abertas este ano na Quinta do Cabo, mais resguardadas do sol. Independentemente das possibilidades de melhoramento, concretizadas em cada edição, o êxito do CineAvante! deste ano reflecte o sucesso da Festa como um todo, feita em circunstâncias complexas e sob um ataque antidemocrático incessante, e afirmando um projecto social e político que não cede ao medo, não vacila perante a intimidação, não aceita a resignação. Claramente, as pessoas desejavam ver filmes depois de meses em que as salas de cinema estiveram encerradas. Ou seja, o PCP e a Festa do Avante! libertaram o cinema e garantiram o acesso a bens culturais que permanecem inacessíveis em muitas regiões do País.




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