Vermelho e aberto para a vida e para a luta
No Espaço Central concentrou-se aquilo que fez singular esta Festa, desde logo o enfrentamento da COVID-19 e do seu aproveitamento.
Vermelho vivo, como habitualmente, era a cor que fazia sobressair o conjunto de pavilhões aos visitantes que chegavam pela Quinta do Cabo.
Pelos dois pórticos vislumbrava-se ruas amplas, com coberturas de tiras vermelhas e brancas a ligar duas áreas de tecto duplo, também de pano e nas mesmas cores.
No pórtico principal, uma fila de estacas pretas separava os circuitos de circulação. Por esta quase avenida, acedia-se ao Fórum, à Loja da Festa e ao Café d’Amizade. «Adere ao PCP» era o apelo feito num painel, junto ao qual dirigentes do Partido se revezavam, em duas mesas com cadeira vaga para conversas.
Dois painéis de maior dimensão foram ali dedicados aos aniversários de Lénine e Engels, igualmente assinalados em debates.
No cruzamento das duas ruas tivemos, de cada lado, as entradas para a exposição política e para a mostra sobre as «levadas» da Madeira. Em cada acesso, um ou uma camarada lembrava, se necessário, a obrigação de usar máscara e higienizar as mãos, indicando os dispensadores de álcool-gel.
Para o exterior, as paredes das exposições tornavam-se painéis, mas eram várias vezes descontinuadas por grandes janelas ou filas de plantas ornamentais.
No sábado, à tarde, o Secretário-geral do PCP visitou as exposições, acompanhado por outros dirigentes do Partido e responsáveis dos colectivos que as conceberam.
Espaço de resistência
Com os conteúdos muito marcados pelos problemas relacionados com o surto epidémico, no Espaço Central destacou-se a denúncia das suas verdadeiras causas, relevando as lutas desenvolvidas, também como estímulo para os próximos tempos.
Assim sucedeu na exposição política. Painéis negros recordaram os muitos casos que vieram a lume desde antes do estado de emergência, integrados pelo PCP na campanha «Nem um direito a menos». Um cubo negro lembrava o que faltou ao capitalismo na resposta à pandemia e sublinhava a urgência de construir um mundo novo.
Depois da crítica ao OE suplementar, elencando o que o PS nele incluiu, em convergência com o PSD, e as propostas do PCP que foram rejeitadas, chegávamos ao «tempo de resistência e luta», confirmando o papel central da luta de massas, ilustrado com o 1.º de Maio na Alameda, exigindo o reforço do SNS e apontando os graves efeitos das privatizações.
O percurso terminava numa «sala» vermelha, dedicada ao PCP e ao seu reforço, com um cubo dedicado ao 21.º Congresso e outro ao centenário do Partido.
«Confiança e luta por uma vida melhor», além de tema da exposição política, foi um lema aqui presente em outras ocasiões, como um painel num dos corredores ou o tema de um dos debates no Fórum.
Sábado à tarde, João Oliveira e Fernanda Mateus (ambos da Comissão Política do Comité Central do PCP), António Filipe (do CC e deputado) e Tiago Cunha (economista) expuseram os traços fundamentais da política alternativa, patriótica e de esquerda, proposta pelo Partido, como âncoras da confiança fundada que se opõe ao conformismo, à resignação e ao medo.
Foi reafirmada a necessidade de valorizar o trabalho e os trabalhadores e foi criticada a opção do Governo de canalizar os apoios do Estado sobretudo para as grandes empresas, ao mesmo tempo que não proibiu despedimentos e impôs perdas nos salários.
O papel central dos serviços públicos ficou evidenciado nestes últimos seis meses, mas também ficaram à vista problemas anteriores à pandemia. Foi deixado um alerta para o confronto ideológico entre os direitos sociais da população e o «direito» do capital a lucrar à conta dos serviços públicos.
Reafirmou-se que, superando todas as contrariedades, a luta dos trabalhadores se há-de desenvolver onde houver injustiças e desigualdades. Da Festa sai a força do exemplo para vencer o medo e, com segurança, continuar a levar a vida e a luta para a frente.
Este ânimo perpassou nas intervenções dos oradores e de quase todos os que, do público, tomaram a palavra, nos outros 13 debates que tiveram lugar no Fórum e no Auditório.
As medidas de prevenção fizeram-se notar no afastamento entre cadeiras e também no som dos microfones partilhados, que cada orador devia borrifar com desinfectante no fim da intervenção.
Visitantes exigentes e participativos mostraram saber ao que iam, evidenciando vivo desejo de conhecer, de reportar preocupações e lutas e de reflectir em conjunto.