Boas notícias da Coreia

Albano Nunes

Responsabilidade da tensão é do imperialismo

Há motivos de esperança na Península da Coreia. O diálogo que por iniciativa da RPDC se abriu entre o Norte e o Sul, actualmente com um governo que não acompanha a deriva belicista de Trump, é um facto político de grande relevância internacional. O simples facto de delegações dos dois países se terem encontrado à revelia e contra a opinião dos EUA e decidido prosseguir conversações sobre questões que vão muito para além das Olimpíadas de Inverno, constitui uma derrota para o imperialismo norte-americano que, com criminosa arrogância e desprezo pela sorte do povo coreano e pela segurança internacional, tudo tem feito para impedir a reunificação da Coreia, alimentando deliberadamente um perigosíssimo foco de tensão e de guerra.

Há motivos de esperança mas não deve perder-se de vista a complexidade de uma situação que parte de uma guerra de agressão a que os EUA sempre recusaram por termo, não só negando a assinatura de um acordo de paz, como instalando na Coreia do Sul poderosas forças militares, incluindo armas nucleares, e promovendo regularmente gigantescas manobras aero-navais de provocação à RPDC. Anteriores conversações e esperançosos acordos de desanuviamento e cooperação, sempre sabotados pelo imperialismo e pela reaccção sul-coreana, mostram que as forças do progresso e da paz devem estar preparadas para um processo tumultuoso e violentas campanhas de desinformação. O imperialismo e a reacção internacional não vão deixar cair os braços. O que está em jogo na estratégia de hegemonia mundial dos EUA, de que Trump é um intérprete perigosamente aventureiro, nada tem a ver com o real problema da proliferação nuclear e ultrapassam em muito a Península da Coreia. A guerra de 1950/53, a imposição de uma ditadura em Seul e a ocupação militar norte-americana do Sul do país, são fruto da doutrina da «contenção do comunismo» dirigida contra a URSS e a República Popular da China, fundada em 1949. Hoje o conteúdo político agressivo é o mesmo: gigantescos negócios de armas, militarização imperialista do Pacífico, apoio ao militarismo japonês, confrontação com o crescente papel económico e político da China no plano regional e mundial.

É por isso necessário manter uma grande vigilância crítica em relação à evolução da situação na Península da Coreia e não esquecer que, independentemente de indesejáveis tiradas de retórica belicista, a responsabilidade da perigosa tensão na região é do imperialismo norte-americano que recusa dar garantias de segurança e ameaça permanentemente a RPDC. Mas há uma lição maior a retirar desde já. Mesmo numa correlação de forças internacional que, com a derrota do campo socialista, continua desfavorável às forças do progresso social e da paz, é possível resistir às mais reaccionárias políticas do sistema capitalista dominante e impor-lhe recuos e derrotas de grande importância. É certo que, como na América Latina, o imperialismo dispõe ainda de poderosos meios, económicos, políticos e militares para recuperar posições perdidas. Mas a resistência e a luta dos trabalhadores e dos povos, com o fortalecimento dos partidos comunistas e da frente anti-imperialista, acabarão por triunfar.




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