VII Congresso<br>da Internacional Comunista

Albano Nunes

Operou-se uma viragem no Partido

1935. O fascismo alastra pela Europa. Em Janeiro de 1933 Hitler, pela mão dos monopólios alemães, ascende ao poder em Berlim. Na Itália, na Bulgária, na Hungria e noutros países o ascenso do movimento operário e revolucionário que a Revolução de Outubro estimulou e que ameaçava o poder do capital, é contido e derrotado e os partidos comunistas ilegalizados. Em Portugal, a «Constituição» de 1933 marca a institucionalização e consolidação do fascismo nos anos seguintes. No quadro do aprofundamento da crise do capitalismo e da agudização das rivalidades inter-imperialistas, enquanto que na URSS a construção do socialismo regista notáveis sucessos, avolumam-se vertiginosamente os perigos de guerra.

Foi neste contexto que foi longamente preparado e realizado (em Moscovo, de 25 de Julho a 20 de Agosto de 1935) o VII Congresso da Internacional Comunista, um congresso que tendo sido o último da I.C. foi particularmente marcante pois operou uma profunda viragem na orientação do movimento comunista, adequando a linha política e organizativa às novas condições e respondendo à necessidade de dar firme combate ao fascismo e à guerra, actualizar e precisar análises (como a definição da natureza de classe do fascismo como ditadura terrorista dos monopólios ) e superar concepções e práticas sectárias que entravavam o crescimento dos partidos comunistas, estreitavam as alianças da classe operária e debilitavam a ligação da vanguarda com as massas populares. Adoptada em ambiente de grande unidade pelos delegados dos 76 partidos e organizações representadas, a táctica de frente única da classe operária e a profunda renovação do estilo de trabalho – como o trabalho nos sindicatos e noutras organizações de massas fascistas – contribuiu muitíssimo para elevar o prestígio dos partidos comunistas e, repondo princípios e métodos leninistas lá onde se haviam enfraquecido, aumentar a sua capacidade de promover a unidade do movimento operário e das forças antifascistas. A I.C. como organização internacional centralizada, em que cada partido era uma «secção» sua, terminou formalmente em 1943, mas já antes a prática era de crescente autonomia e independência dos partidos, prática que o VII Congresso reconheceu e reforçou.

«No que respeita ao PCP – escreveu Álvaro Cunhal – as conclusões do VII Congresso da Internacional Comunista constituíram uma poderosa contribuição para fazer sair o Partido da concha da sua actividade clandestina, da tendência sectária que consistia em considerar a actividade clandestina como a única actividade possível e revolucionária e cujo resultado era o afastamento efectivo dos comunistas da classe operária, a transformação do Partido numa “seita” sem apoio de massas, extremamente vulnerável aos golpes da repressão». A prisão de Bento Gonçalves logo após o seu regresso de Moscovo, onde dirigiu a delegação do Partido, atrasou a assimilação da nova orientação. Mas não conseguiu impedir que ela acabasse por ser aplicada criativamente à situação concreta de Portugal no quadro da reorganização de 1940/41. Apesar de resistências, nomeadamente na frente sindical, operou-se uma viragem no Partido para o trabalho de massas, aproveitando todas as possibilidades de acção legal a partir de uma estrutura clandestina indestrutível. As grandes greves dos anos quarenta tal como a criação do MUNAF e do MUD, muito devem às inspiradas orientações do VII Congresso da I.C. Elas constituíram uma contribuição de grande valor para o desenvolvimento e afirmação do PCP como grande partido nacional, vanguarda da classe operária e força dirigente do movimento democrático antifascista.

 



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