A burla
A coligação PSD/CDS realizou-se porque os seus responsáveis viram que concorrer separados às próximas eleições era o desastre garantido. E ponto final. Se provas fossem necessárias, bastaria o adiar torcicolado e em desespero que foi usado por ambos em todo o longuíssimo «processo de decisão», todos sopesando as perdas e ganhos até se verem confrontados com a inevitabilidade de irem juntos, como única alternativa de tentar amortecer o desastre eleitoral que os espera.
Portanto, esta coligação PAF foi uma inevitabilidade a contra-gosto e o espectáculo de pôr os dois líderes, no passado fim-de-semana, no mesmo palco do calçadão de Quarteira (que finge agora ser «a Festa do Pontal» do PSD) foi isso mesmo – um espectáculo que pusesse em andamento a geringonça da coligação.
A disposição dos líderes na grelha dos discursos e dos convidados nas mesas da sardinhada mostrou quem é quem – Portas fez a primeira parte do espectáculo e Coelho apoteoticamente fechou-o, enquanto os convidados se intercalavam escrupulosamente nas cadeiras (um CDS ombreava com um PSD) a tentar esconder o óbvio: que naquela maquineta quem manda é o PSD.
Só não é um caminho aberto para novas «decisões irrevogáveis», porque não ficará pedra sobre pedra deste PAF, nas eleições do próximo 4 de Outubro.
Quanto às mentiras desbragadas tanto de Portas como de Coelho foi o que se esperava, ambos falando de um país que não existe, onde as brutalidades infligidas à Função Pública e aos trabalhadores do «privado» – aos pensionistas e às largas centenas de milhares que foram lançados no desemprego – se sumiram, como se não tivessem ocorrido, tal como o desmantelamento ou as desregulações do Serviço Nacional de Saúde, do Ensino, da Justiça, da Segurança Social e dos serviços do Estado, generalizadamente.
A tibieza também campeia no PS/Costa, enfronhado a dualizar com o PAF a «batalha das décimas» e a demonstrar a todo o custo que pretende «fazer melhor», sem mexer nas sacrossantas «regras e compromissos» que «assinámos com as instituições europeias».
Pode agradar a quem manda na Europa, mas não ilude um povo que, após tantas provações, já percebeu que se tem de enfrentar a dívida impagável em que nos mergulharam e os ditames da troika, se queremos que Portugal tenha capacidade de sair do atoleiro económico e social precipitado por este Governo, numa Legislatura onde a maioria de pés-de-barro (PSD 38% e CDS 11%) levou a cabo a tentativa de defenestração do regime do Portugal de Abril, com a cobertura imprescindível do PR Cavaco Silva e a passividade cúmplice do PS.
A troika interna dos interesses (PS, PSD e CDS) continua a apostar na burla de que a «alternância» pode ser alternativa.
No próximo 4 de Outubro vão perceber que tal burla foi chão que já deu uvas.