Mineiros caminham para Madrid

Marcha negra pelo futuro

Depois de mais de um mês em greve e de cortes de estrada e duros confrontos com a polícia, mineiros de várias regiões de Espanha iniciaram, dia 22, uma marcha negra até Madrid, em defesa das minas e dos postos de trabalho.

Sexta semana de resistência exemplar

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A «marcha negra» partiu simbolicamente da mina de Barredo, na localidade de Mieres, nas Astúrias, onde, em 1991, 36 sindicalistas se enclausuraram durante 11 dias, em protesto contra a reestruturação da empresa pública Hunosa.

Cerca de 80 trabalhadores, entre os quais estão quatro mulheres, meteram-se a caminho, determinados a vencer os cerca de 500 quilómetros que os separa da capital espanhola.

No mesmo dia, uma coluna de 35 mineiros partiu da Galiza para se juntar aos 45 camaradas de Leão. Na quarta jornada de marcha, as duas colunas juntaram-se no município de Robla (Leão), esperando alcançar Madrid no próximo dia 11 de Julho.

Esta é a terceira «marcha negra» contra o encerramento das minas de carvão. A primeira foi protagonizada por 500 mineiros da Minero Siderúrgica de Ponferrada (MSP) que, em 1992, deram o exemplo caminhando até Madrid.

No ano passado, confrontados com salários em atraso, duas centenas de mineiros leoneses decidiram reeditar a marcha histórica, percorrendo 110 quilómetros até à capital da província, para se integrarem nas manifestações de 29 de Setembro, dia de greve geral no país.

A grande instabilidade há muito sentida no sector agravou-se dramaticamente com o anúncio do corte de 63 por cento dos apoios estatais à extracção de carvão. A concretizar-se, esta medida ditará a sentença de morte da maioria das minas, arruinando comunidades inteiras que dependem desta actividade.

Entretanto, sete trabalhadores continuam barricados nas minas de Santa Cruz del Sil, nas Astúrias, num protesto que dura há 36 dias. Entre eles está Victor Manuel Almeida, a quem chamam «El Português», por ser filho de portugueses que emigraram de Chaves. Outros portugueses emigrantes se têm destacado nesta luta desesperada pela sobrevivência (Lusa, 22.06).

 

Uma luta justa

 

Solidarizando-se com a luta dos mineiros, a direcção da Federação das Indústrias Metalúrgicas (Fiequimetal), enviou uma mensagem às Comisiones Obreras, saudando «fraternal e calorosamente a luta determinada que têm vindo a desenvolver pela manutenção da laboração das vossas minas». «A vossa determinação constitui um exemplo para todo o sector mineiro. Pelo direito ao trabalho! Pelos recursos minerais ao serviço dos povos e das suas regiões!».

Também o Movimento Democrática das Mulheres (MDM) expressou a sua solidariedade com a «marcha negra», manifestando o seu «total apoio às trabalhadoras mineiras e companheiras dos mineiros que incansavelmente se mantêm organizadas e unidas, contribuindo para um verdadeiro reforço deste protesto, reivindicando o direito ao trabalho e a dignidade para as suas famílias.»



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