Defender a Segurança Social e as poupanças da especulação
No final de Janeiro a Comissão Europeia lançou a chamada «Bússola da Competitividade». Faz hoje uma semana, o Conselho Europeu deu gás a muito do que aí foi projectado. Em nome de um pretenso plano de revitalização económica das empresas e da indústria na «Europa», e para procurar contrariar o atraso cada vez mais evidente perante a «concorrência» – pretensos parceiros ou adversários –, é necessário mobilizar verbas para «incentivar» os privados a investir, que é como quem diz, já que estes não dinamizam, não assumem o risco, não investem, é preciso «incentivar» a sua acção transferindo-lhes verbas públicas, mas não só.
O nível preconizado de investimento que se ambiciona (e que por certo projecta o crescimento de lucros de forma significativa), exige que se vá buscar o filet mignon aos mesmos de sempre, aos trabalhadores. Para lá do incentivo à consagração da União dos mercados de capitais e a conclusão da União Bancária, prevê-se agora a criação de uma «União da Poupança e dos Investimentos», que facilite a transferência das poupanças individuais – as poupanças de uma vida – e das pensões, para inflar os capitais das empresas ou capitais de risco. Ursula Von der Leyen tem sido clara: a «Europa», «nós» somos «campeões» da poupança; nos EUA, as famílias economizam 800 mil milhões de dólares; na «Europa» as famílias economizam por ano 1,4 biliões de euros (reformulo para que melhor se perceba: 1,4 milhões de milhões de euros). Não basta o garrote que têm imposto às famílias, os magros salários, a inflação, os preços da habitação, o desinvestimento na saúde, na educação. É preciso sugar as parcas poupanças que somadas constituem apetecível fonte. Para as multinacionais, inclusive as multinacionais da guerra, são mundos e fundos o que se avança.
A palavra é essencial para iludir os incautos. O futuro é de prosperidade, dizem. Mas nem uma palavra, nestes planos e estratégias, para o controlo público de sectores fundamentais. Nem uma palavra para a defesa e reforço da soberania e independência produtivas no quadro de cada Estado. Nem uma palavra para a elevação das condições de vida e ao combate efectivo às desigualdades. E é com as poupanças e as reformas dos trabalhadores que se joga o risco e a especulação financeira, como se as jogássemos num jogo de azar. Aí está o engodo lançado para, dizem, «aumentar as oportunidades para os cidadãos», dinamizando produtos de «investimento» e de «poupança e reforma», de que é exemplo o «Produto Individual de Reforma Pan-Europeu».
Os agiotas do capital de risco e dos fundos de pensões aplaudem estas medidas. E no fim dirão que, se algo correr mal, os Estados, que é como quem diz todos nós, assumem a despesa mais uma vez.