EUA suspendem parte do apoio militar à Ucrânia
Os EUA suspenderam parte do apoio militar à Ucrânia até que o governo ucraniano «esteja pronto para a paz» e aceite negociações para pôr fim à guerra. Ao mesmo tempo, os círculos belicistas na Europa, encabeçados pelo Reino Unido, a França e a UE, esforçam-se pelo prolongamento do conflito.
Reino Unido, França e UE lideram esforços para prolongar a guerra na Ucrânia
Os EUA suspenderam temporariamente parte do seu apoio militar à Ucrânia até que vejam um compromisso por parte de Kiev com as negociações para pôr fim à guerra.
A suspensão de parte do apoio militar dos EUA surge depois do fracasso das conversações entre Trump e o seu homólogo ucraniano, Zelenski, na Casa Branca, no passado dia 28, que terminaram abruptamente com uma acesa discussão, perante os jornalistas. Zelenski foi criticado por Trump, e também pelo vice-presidente Vance, pelo seu não comprometimento com o processo negocial da iniciativa dos EUA visando pôr termo ao conflito com a Rússia. Trump afirmou mesmo que Zelenski não seria bem-vindo à Casa Branca até que esteja «pronto para a paz».
Foi adiada a assinatura, prevista para esse dia, de um acordo entre os EUA e a Ucrânia sobre a exploração de terras raras ucranianas, na prática e à semelhança de outros acordos desiguais já firmados pelas autoridades ucranianas com o Reino Unido, outras potências da UE e grandes grupos económicos e financeiros, que coloca os recursos do país sob controlo e domínio estrangeiro. Algumas fontes sublinham o facto de a Ucrânia ter já cedido ao Reino Unido a exploração de importantes recursos, num acordo secreto recentemente assinado.
Planos contra a solução política do conflito
Entretanto, a iniciativa de um grupo de países europeus, reunidos no dia 2 em Londres, não representa um plano para a paz, mas para prolongar a guerra. A cimeira na capital britânica – que se seguiu a duas reuniões do mesmo tipo em Paris e à visita aos EUA do presidente francês, Emmanuel Macron, e do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer – contou com a presença de responsáveis de instituições da UE e de uma dezena e meia de governantes oriundos do Canadá, da Turquia, da Ucrânia e de outros países europeus, entre os quais Olaf Scholz, o chanceler cessante da Alemanha, que insistiu na continuação do apoio militar a Ucrânia.
Em Londres, «ouviram-se declarações sobre a necessidade de garantir com urgência um maior nível de financiamento à Ucrânia. Isso claramente não é para um plano de paz mas, decerto, para a continuação das acções militares», considerou Dmitri Peskov, porta-voz do presidente da Rússia. E comentou que «o Ocidente colectivo começou a perder parcialmente a sua condição de colectivo», aludindo às contradições entre Washington e os seus aliados.
A escalada belicista da UE
Está prevista para esta quinta-feira, 6, em Bruxelas, uma reunião extraordinária do Conselho Europeu, tendo na agenda o prolongamento da guerra na Ucrânia e o agravamento da escalada armamentista na União Europeia. A cimeira prosseguirá a cruzada da UE contra a Rússia, pretendendo manter o apoio à continuação da guerra na Ucrânia.
Com este propósito, a presidente da Comissão Europeia, Von der Leyen, outra destacada belicista, divulgou na terça-feira, 4, o plano dito «Rearmar a Europa» – como se a UE e os países que a integram não gastassem já centenas de milhares de milhões em despesas militares –, em que ambiciona mobilizar mais 800 mil milhões de euros para o aumento dos gastos militares. A UE disponibilizará aos países cerca de 150 mil milhões de euros em empréstimos para fomentar as despesas militares. Os países que integram a UE poderão ainda reafectar fundos comunitários, como os de Coesão, para gastar em armamento.
Será ainda proposta a activação de uma cláusula de escape no âmbito do Pacto de Estabilidade para permitir que as despesas militares não sejam contabilizadas ao longo de quatro anos para o cálculo da dívida e do défice. Von der Leyen deseja que os países que integram a UE possam assim aumentar em cerca de 600 mil milhões de euros as suas despesas militares durante um período de quatro anos sem desencadear o procedimento por «défice excessivo».
Quando se trata de aumentar salários e pensões, assegurar o funcionamento adequado dos serviços públicos na saúde, educação ou Segurança Social, garantir o acesso à habitação ou resolver os resolver os problemas das populações surge sempre o argumento de que «não há dinheiro» – que sempre aparece, e muito, para alimentar a guerra e financiar a indústria do armamento.
Pormenores do plano e do seu financiamento estarão em debate no Conselho Europeu, assim como o espinhoso tema do roubo dos activos da Rússia, bloqueados em bancos na UE.
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Em 2023, as despesas somadas dos países europeus que então integravam a NATO (excluindo, portanto, a Finlândia e a Suécia, que integraram o bloco político-militar a partir dessa altura) ascendiam a 376 mil milhões de dólares – cerca de 3,5 vezes mais do que as da Rússia e 1,3 vezes mais do que as da China.
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Já os EUA, que sozinhos assumiram nesse ano 38% do total dos gastos militares mundiais, gastaram oito vezes mais do que a Rússia e três vezes mais do que a China.
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A NATO, no seu conjunto, representava cerca de 55% das despesas militares mundiais, ou seja, 31 países gastavam mais em armamento, tropas, instalações e equipamento militar do que os restantes 162 países do mundo.
(dados do SIPRI, Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, 2024)