UE e NATO de mãos dadas

Albano Nunes

Está em marcha o fortalecimento e expansão da NATO

No momento em que escrevo (3 de Fevereiro) estará a decorrer no Palácio Egmont, em Bruxelas, uma «jornada de reflexão informal» do Conselho Europeu sobre «defesa europeia», para a qual, além do primeiro-ministro do Reino Unido, está convidado o Secretário-Geral da NATO. Tudo indica que o objectivo da «reflexão» é dar um novo impulso à «economia de guerra» em construção e fazê-lo em articulação com a NATO e em posição subalterna e dependente em relação aos EUA.

Quando o Presidente do Conselho Europeu, António Costa, em entrevista à RTP (29.01.25), longe de rejeitar insolentes exigências e ameaças de Trump admite que elas vêm ao encontro do projecto de «autonomia estratégica» da UE, fica mais claro que tal «autonomia» é afinal um pretexto para reforçar o pilar europeu da NATO e a vertente federalista da UE. O anúncio de um novo Conselho Europeu imediatamente após a cimeira da NATO, anunciada para 24 a 26 de Junho em Haia, fala por si.

Em lugar do tão badalado «desinvestimento» trumpista na NATO e o consequente enfraquecimento desta aliança agressiva, o que está em marcha é o seu fortalecimento e expansão, com os EUA a exigirem e a obterem dos seus aliados europeus um brutal aumento de despesas com a indústria da morte (implicando compras milionárias ao seu complexo militar-industrial) e a submeterem-se às ambições geo-estratégicas norte-americanas, apesar das suas pesadas consequências no plano económico (evidente no caso da Alemanha), assim como no plano social e político. Uma situação em que não desapareceram nem a competição entre os monopólios nem as contradições entre as grandes potências capitalistas dos dois lados do Atlântico Norte.

Como sucedeu noutros momentos históricos com as gravíssimas consequências que se conhecem, elas poderão explodir quando menos se espera pondo em causa alianças que se apresentavam como se fossem uma expressão natural do desenvolvimento histórico. O que entretanto acontece é que essas contradições são temporariamente abafadas pela psicose de um dito «inimigo» comum ameaçador (antes a União Soviética, agora a Rússia), fantasma que o Secretário-Geral da NATO agitou na sua recente visita a Portugal para exigir uma inaceitável escalada nas despesas com armamento, obviamente à custa, como explicitamente Mark Rutte tem defendido, das condições de vida dos portugueses.

Veremos o que sai da «reflexão» deste conselho informal quando a arrogância e os propósitos expansionistas dos EUA não poupam os próprios aliados. Mas é de temer que aqueles que já falam abertamente em «preparar a opinião pública para a guerra» (chegando mesmo a apontar-lhe uma data) e que alimentam o avanço do fascismo continuem a iluminar o caminho de um processo de integração (hoje União Europeia) que desde a sua origem está umbilicalmente ligada aos EUA, ao desencadeamento da «guerra fria», às pretensões de hegemonia mundial do imperialismo norte-americano. As motivações da criação da NATO e da CEE/UE tem a mesma natureza de classe e idênticos objectivos contra-revolucionários.

Para o enquadramento histórico do momento que vivemos, a obra de António Avelãs Nunes «A Europa OTANizada» é particularmente oportuna e uma valiosa contribuição para a mobilização para a luta anti-imperialista, pelo progresso social e a paz.



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