Ainda o nazi-fascismo

Filipe Diniz

«A IG Bayer negociou com a SS o envio de 200 mulheres prisioneiras para experiências com sedativos. A SS queria 200 marcos por cada, a IG Bayer não queria pagar mais do que 170.» Correspondência posterior: «Foram realizadas as experiências. Todas as pessoas testadas morreram. Em breve vos contactaremos sobre nova remessa ao mesmo preço».

Auschwitz. A IG Bayer integrava o infame cartel IG Farben, símbolo a nunca esquecer da estreita articulação entre grande capital e nazi-fascismo. Um dos maiores conglomerados existentes na altura. Construíra a sua dimensão gigantesca sobre a espoliação e a ruína de milhares de empresas, dentro e fora da Alemanha. O capital monopolista na sua implacável brutalidade.

Uma cumplicidade em toda a gama: financiamento e promoção do nazismo; incentivo e preparação da guerra; instalação de unidades industriais para explorar a força de trabalho nos campos de concentração. Em Auschwitz III (Monowitz), fábricas para a produção de borracha e combustível sintético, cuja construção e produção assentam em trabalho escravo de prisioneiros e de «voluntários» arrebanhados em países ocupados. Força de trabalho que produz até morrer, frequentemente no próprio local de trabalho. E os incapazes de trabalhar são mortos com o Zyklon B que produziu.

Os seus principais dirigentes são levados a julgamento em Nuremberga (1947-48). Apesar dos arrasadores testemunhos acusatórios – sobretudo de sobreviventes de Auschwitz –, uns são ilibados de qualquer crime, outros são condenados a penas entre os 18 meses e os 8 anos. Em pouco tempo são libertados e praticamente todos integrados em lugares de responsabilidade, incluindo em empresas resultantes do desmembramento do cartel: Bayer, Hoechst, BASF (conhecem?).

Quem os protegeu? A infalível solidariedade do grande capital que, sobretudo por parte do dos EUA e da Grã-Bretanha, não ia deixar cair irmãos de classe.

 



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