Medo, ódio, (in)segurança

Carlos Gonçalves

Na contra-ofen­siva im­pe­ri­a­lista, de «pro­xies» e amigos do peito, contra as forças so­ciais e po­lí­ticas in­sub­missas, que re­sistem aos ca­mi­nhos de guerra e avanço do fas­cismo – ine­rentes ao sis­tema na sua crise es­tru­tural –, em Por­tugal e onde quer que tentem in­verter o de­clínio do ca­pi­ta­lismo e re­tardar o avanço da his­tória, a agressão re­ac­ci­o­nária in­cor­pora, no ar­senal de armas e per­ver­si­dades, o com­bate ide­o­ló­gico, sem ver­dade nem es­crú­pulos.

As ma­té­rias em que se trava esta ba­talha ide­o­ló­gica e se re­gista a ofen­siva mais brutal das forças e meios do gran­dís­simo ca­pital para ma­ni­pular a lei­tura da re­a­li­dade pelos tra­ba­lha­dores e as massas e con­di­ci­onar a si­tu­ação no plano so­cial e po­lí­tico, são as que ins­tigam mais pre­con­ceitos e emo­ções de medo e ódio – an­ti­co­mu­nismo, in­se­gu­rança, imi­gração, xe­no­fobia, ra­cismo – para criar adesão ao su­per­fi­cial, ao «po­pu­lismo» re­ac­ci­o­nário, ao obs­cu­ran­tismo e au­to­ri­ta­rismo an­ti­de­mo­crá­ticos e ao pro­to­fas­cismo.

É assim clara a ofen­siva ide­o­ló­gica re­ac­ci­o­nária e os seus efeitos, que exaus­ti­va­mente, nos media e «redes so­ciais» do­mi­nantes, mis­ti­fica as ques­tões, que se tornam em algo muito di­fe­rente do que re­al­mente são. As suas tó­nicas nesta fase são que «a imi­gração é a causa da in­se­gu­rança», que re­gista «grande cres­ci­mento». Mas, vai-se a ver, as es­ta­tís­ticas ofi­ciais e a ob­ser­vação da PSP e PJ provam que nada disto é ver­dade, nem a imi­gração é causa de cres­cente in­se­gu­rança, nem se ve­ri­fica qual­quer avanço sig­ni­fi­ca­tivo da cri­mi­na­li­dade e in­tran­qui­li­dade pú­blica co­nexas com as ci­tadas mis­ti­fi­ca­ções.

En­tre­tanto, a ma­ni­pu­lação da re­a­li­dade cria novos des­li­za­mentos po­lí­ticos para a di­reita – com pu­ta­tivas con­ver­gên­cias PSD/​PS –, dá força aos au­tarcas mais au­to­ri­tá­rios, à ex­trema-di­reita an­ti­de­mo­crá­tica, xe­nó­foba e ra­cista e à re­pe­tição brutal e pro­vo­ca­tória do «en­costem-nos à pa­rede!». E esse efeito é ir­re­ver­sível no curto prazo, porque no dia se­guinte temos uma nova ma­ni­pu­lação re­ac­ci­o­nária com pro­jecção se­me­lhante.

Sobra, nesta ma­téria, a evi­dência, que um dia há-de ficar mais clara, que o que de facto ali­menta a cri­mi­na­li­dade mais so­fis­ti­cada, a cor­rupção, a in­se­gu­rança e os pe­quenos e mé­dios ban­didos, é o ca­pi­ta­lismo, o mesmo que di­rige toda a ma­ni­pu­lação re­ac­ci­o­nária e pro­to­fas­cista.



Mais artigos de: Opinião

Um dia de luta. Porquê e para quê?

1. A evolução da situação das mulheres tem como denominador comum o agravamento das suas condições de vida e de trabalho, a acentuação das desigualdades, discriminações e diversas formas de violência a que continuam sujeitas. Uma realidade indissociável dos impactos resultantes do agravamento...

UE e NATO de mãos dadas

No momento em que escrevo (3 de Fevereiro) estará a decorrer no Palácio Egmont, em Bruxelas, uma «jornada de reflexão informal» do Conselho Europeu sobre «defesa europeia», para a qual, além do primeiro-ministro do Reino Unido, está convidado o Secretário-Geral da NATO. Tudo indica que o objectivo da «reflexão» é dar um...

A festança

1. Entre 30 de Novembro de 2023 e o mesmo dia de 2024 o número de multimilionários no mundo passou de 2565 para 2769 indivíduos e a sua riqueza conjugada registou o segundo maior crescimento desde que há dados (mais, só em 2021), aumentando neste período dois milhões de milhões de dólares, qualquer coisa como 5700...

O sol e a peneira

A eleição de Trump terá deixado Manuel Carvalho duplamente desconsolado. Está, como diz o povo, que nem pode! Primeiro porque, como confessa, tem mais dificuldade em «dizer mal de Xi ou de Putin», exercício que lhe consome parte significativa do seu labor jornalístico e fulgor intelectual. Depois, porque pressagia,...

Ainda o nazi-fascismo

«A IG Bayer negociou com a SS o envio de 200 mulheres prisioneiras para experiências com sedativos. A SS queria 200 marcos por cada, a IG Bayer não queria pagar mais do que 170.» Correspondência posterior: «Foram realizadas as experiências. Todas as pessoas testadas morreram. Em breve vos contactaremos sobre nova remessa...