Grande jornada pela paz

Cristina Cardoso

A luta pela paz ganhou urgência

Para todos quantos participaram na manifestação «É urgente por fim à guerra! Todos juntos pela Paz!» que percorreu, este sábado, a Baixa de Lisboa, não restam dúvidas de que foi uma grande jornada de luta pela paz. Todos nos sentimos acompanhados por uma multidão que em uníssono gritou pelo fim de todas as guerras, contra o militarismo e a corrida aos armamentos, pela soberania e os direitos dos povos, pela resolução política dos conflitos, pelo fim do genocídio levado a cabo por Israel e por uma Palestina livre e independente, entre outras prementes reivindicações.

Foi uma manifestação construída em torno de um apelo que contou com a subscrição de cerca de uma centena de organizações e que mobilizou milhares e milhares de pessoas, que deixaram bem claro que estão dispostas a lutar pelos seus direitos a uma vida digna e a viver em paz, rejeitando que milhões sejam retirados à melhoria dos salários, da saúde ou da educação para serem utilizados no aumento das despesas militares, dizendo não à lógica de que nos temos que preparar para a guerra ou para morrer onde a NATO o disser.

Uma manifestação que contou com o silenciamento da comunicação social ao longo da sua preparação. Que no dia da sua realização contou apenas com algumas peças nos noticiários das TV que, não conseguindo esconder a sua dimensão, procuraram minimizá-la remetendo para a ideia da presença de apenas centenas de pessoas. Que no dia seguinte não contou com uma única linha nos jornais impressos. Não é nada que nos espante, pois são estes media que, dominados pelos grupos económicos, alimentam mentiras e desferem ataques contra todos quantos ousam defender a Paz e a resolução política do conflito face à apologia da escalada armamentista e do agravamento da guerra na Ucrânia, ou se recusam a apagar a história de décadas agressão e ocupação de Israel na Palestina. Os mesmos que sempre promovem a narrativa belicista com que os EUA, a NATO e a UE procuram justificar guerras e agressões.

Perante uma situação internacional incerta e com sérios perigos, esta manifestação foi expressão de um genuíno anseio pela Paz. Muitos dos que ali estiveram ultrapassaram preconceitos, recusaram a imposição do pensamento único e rejeitaram que a vida e o futuro se defendam com mais armas, destruição e horror. Potencialidades da luta que continuam bem presentes e que há que desenvolver.

Sim, há que continuar. A luta pela Paz ganhou urgência. A tomada de posse da administração de Donald Trump representa, mesmo que de outra forma, a continuação da estratégia de confrontação, ingerência e agressão que visa impor o domínio do imperialismo norte-americano no plano mundial, apresentando uma séria ameaça à paz e soberania dos povos. O cessar-fogo na Faixa de Gaza, representando uma esperança para o povo palestiniano, e com ele celebramos a sua heróica resistência, não é de todo a garantia do fim da agressão de Israel nem do respeito pelos direitos nacionais do povo palestiniano. Veja-se as ameaças e ataques dos colonos israelitas na Cisjordânia ou a manifesta vontade de alguns membros do governo de Israel de não passarem da primeira fase do acordo. É por tudo isto urgente reforçar o movimento da paz em Portugal e a solidariedade com o povo palestiniano e com todos os outros povos vítimas da agressão do imperialismo.

 



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