Palestina, não desarmar e prosseguir a luta!

Ângelo Alves

Após 469 dias de genocídio, 47 mil mortos, 111 mil feridos e 11 mil desaparecidos, o povo palestiniano vive horas de relativo alívio no inferno em que Israel transformou a Faixa de Gaza. Quando escrevemos estas linhas passaram pouco mais de 24 horas sobre o início da entrada em vigor do cessar-fogo. Foram já libertados três prisioneiros israelitas e 90 palestinianos. A ajuda humanitária entra, ainda que em quantidade inferior à que a situação exige. Os deslocados voltam às suas casas, ou ao que resta delas.

Não ignorando o grau de incerteza que persiste sobre a sua duração e grau de concretização, este cessar-fogo é um desenvolvimento positivo, indissociável, antes de mais, da resistência e coragem do povo palestiniano. Uma conquista inseparável da persistência e determinação de todos os que pelo Mundo fora, e também em Portugal, nunca soçobraram às inúmeras tentativas de calar as vozes da denúncia do genocídio e da exigência de um cessar-fogo e que desenvolveram e desenvolvem um impressionante movimento de solidariedade com a Palestina que ganhou as ruas, se alargou muito e colocou em defesa os apoiantes dos crimes de Israel. Foi essa convergência da resistência com a solidariedade internacionalista que isolou progressivamente o governo de Israel e os seus mais directos apoiantes, desde logo a administração norte-americana. E é isso que explica a ridícula e cínica «competição» entre Biden e Trump sobre «quem conseguiu o acordo».

Os próximos dias dirão se estamos perante um caminho que levará a um cessar-fogo permanente ou, pelo contrário, um interlúdio no desfile de horrores de Israel na Palestina e no Médio Oriente. A História de Israel e os acontecimentos dos últimos anos provam que Israel não tem pejo em rasgar acordos. As recentes declarações do embaixador de Israel em Portugal, criminosas e incendiárias, demonstram bem o grau de ódio e racismo gerado nos centros de decisão sionistas. Tudo isso aponta para uma importantíssima conclusão. O cessar-fogo não é a paz e muito menos o cumprimento dos direitos do povo palestiniano. É, portanto, necessário não desarmar e prosseguir a luta pela paz e pela Palestina. No passado sábado foi isso que fizemos, na extraordinária manifestação pela paz. Vamos prosseguir!

 



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