O comentador Mendes

João Frazão

O se­nhor Mendes apre­sentou-se este do­mingo, no seu es­paço ha­bi­tual de co­men­tário, para dis­correr sobre a ponto de si­tu­ação das can­di­da­turas au­tár­quicas em di­versos mu­ni­cí­pios, in­cluindo o Porto.

Pu­xando de toda a sua sa­be­doria bem in­for­mada, re­feriu o can­di­dato do PS, que aliás já era pú­blico, es­cla­receu que, no PSD, há um can­di­dato de­se­jado, mas que não se sabe se vai ser, e que, no mo­vi­mento que elegeu o ac­tual Pre­si­dente da Câ­mara, pode haver também um can­di­dato, que ainda não é certo.

No meio de tanto rigor, só faltou ao co­men­tador Mendes re­ferir que, nessa mesma tarde, numa vi­brante ini­ci­a­tiva na ci­dade do Porto, a CDU – força com re­pre­sen­tação na Câ­mara e na As­sem­bleia Mu­ni­cipal e que tem, re­co­nhe­ci­da­mente, uma in­ter­venção sem pa­ra­lelo de de­núncia dos pro­blemas da ci­dade e de pro­posta para os ul­tra­passar – apre­sentou a sua can­di­data, Diana Fer­reira.

Tal «lapso» só se com­pre­en­derá se a fonte de in­for­mação do co­men­tador for apenas o órgão de co­mu­ni­cação so­cial que lhe dá al­bergue, que, nesse mesmo Jornal da Noite, apesar de ter uma parte bas­tante de­sen­vol­vida de po­lí­tica na­ci­onal, e de ter re­fe­rido vá­rias can­di­da­turas au­tár­quicas, ig­norou olim­pi­ca­mente a ini­ci­a­tiva que contou com a par­ti­ci­pação do Se­cre­tário-Geral do PCP e com mais de 200 apoi­antes.

Da opção de de­li­be­rado si­len­ci­a­mento da acção do PCP e, de ora em di­ante, das can­di­da­turas da CDU às au­tar­quias lo­cais, já não ha­verá muito para dizer.

Eles sabem quem lhes põe o dedo na fe­rida e quem devem pro­mover.

Fazem-me lem­brar um ven­dedor de frutas do mer­cado da minha in­fância que, por de­trás de uns óculos que lhe davam um ar mais se­reno que os seus ins­tintos au­to­ri­zavam, le­vava o tempo en­gra­xando la­ranjas e maçãs que queria ra­pi­da­mente ven­didos, pois já ti­nham pas­sado do ponto, te­mendo o velho mer­ce­eiro ficar no pre­juízo do que não ven­desse e no tra­balho para se li­vrar de so­bras im­pres­tá­veis.

Homem de falas finas, com pre­ten­sões a um des­ta­cado papel no mer­cado, dis­punha os ditos frutos «pre­di­lectos» e in­sistia com os cli­entes que con­fi­avam nele e na sua banca de grande vi­si­bi­li­dade, ig­no­rando as ou­tras frutas e es­con­dendo-as mesmo com sacos de se­ra­pi­lheira velha para que nin­guém se aper­ce­besse das cores vivas e o quão vi­çosas es­tavam.

Há gente que é assim, pe­rita em vender fruta velha.



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