O comentador Mendes
O senhor Mendes apresentou-se este domingo, no seu espaço habitual de comentário, para discorrer sobre a ponto de situação das candidaturas autárquicas em diversos municípios, incluindo o Porto.
Puxando de toda a sua sabedoria bem informada, referiu o candidato do PS, que aliás já era público, esclareceu que, no PSD, há um candidato desejado, mas que não se sabe se vai ser, e que, no movimento que elegeu o actual Presidente da Câmara, pode haver também um candidato, que ainda não é certo.
No meio de tanto rigor, só faltou ao comentador Mendes referir que, nessa mesma tarde, numa vibrante iniciativa na cidade do Porto, a CDU – força com representação na Câmara e na Assembleia Municipal e que tem, reconhecidamente, uma intervenção sem paralelo de denúncia dos problemas da cidade e de proposta para os ultrapassar – apresentou a sua candidata, Diana Ferreira.
Tal «lapso» só se compreenderá se a fonte de informação do comentador for apenas o órgão de comunicação social que lhe dá albergue, que, nesse mesmo Jornal da Noite, apesar de ter uma parte bastante desenvolvida de política nacional, e de ter referido várias candidaturas autárquicas, ignorou olimpicamente a iniciativa que contou com a participação do Secretário-Geral do PCP e com mais de 200 apoiantes.
Da opção de deliberado silenciamento da acção do PCP e, de ora em diante, das candidaturas da CDU às autarquias locais, já não haverá muito para dizer.
Eles sabem quem lhes põe o dedo na ferida e quem devem promover.
Fazem-me lembrar um vendedor de frutas do mercado da minha infância que, por detrás de uns óculos que lhe davam um ar mais sereno que os seus instintos autorizavam, levava o tempo engraxando laranjas e maçãs que queria rapidamente vendidos, pois já tinham passado do ponto, temendo o velho merceeiro ficar no prejuízo do que não vendesse e no trabalho para se livrar de sobras imprestáveis.
Homem de falas finas, com pretensões a um destacado papel no mercado, dispunha os ditos frutos «predilectos» e insistia com os clientes que confiavam nele e na sua banca de grande visibilidade, ignorando as outras frutas e escondendo-as mesmo com sacos de serapilheira velha para que ninguém se apercebesse das cores vivas e o quão viçosas estavam.
Há gente que é assim, perita em vender fruta velha.