Messianismo, dogmas e imperialismo

António Santos

Lusa


A cerimónia messiânica de inauguração de Trump e da sua «era dourada» consumou simbolicamente a morte de alguns dogmas liberais: o capitalismo já não precisa, ou já não consegue, esconder todas as suas intenções. Sem particular surpresa, vimos Elon Musk fazer o que é entendido como sendo a saudação nazi. Ouvimos Trump ressuscitar expressamente o Destino Manifesto do século XIX e declarar que os EUA estão em «expansão territorial».

Longe vão os tempos em que o im­pe­ri­a­lismo se dis­far­çava efi­caz­mente de amante da de­mo­cracia e da li­ber­dade: Trump é co­roado pe­rante uma cen­tena de bi­li­o­ná­rios que já não se es­condem, pro­mete con­quistar qual­quer ter­ri­tório que lhe seja con­ve­ni­ente e anuncia que se­guirão re­dadas mas­sivas de imi­grantes, tra­tados le­gal­mente como «ini­migos» e «in­va­sores». Em di­recto, em Por­tugal, os ca­nais ge­ne­ra­listas de te­le­visão dis­cor­riam cal­ma­mente sobre os sa­patos da nova pri­meira-dama, o ves­tido da an­te­rior e a gra­vata do pre­si­dente que já disse que os EUA já não pre­ci­sarão de mais elei­ções.

O único pre­si­dente a que Trump se re­feriu, em todo o dis­curso, foi Mc­Kinley, que tratou de ocupar o Havai, Cuba, Porto Rico, as Fi­li­pinas, entre ou­tros ter­ri­tó­rios. Acto con­tínuo, o mag­nata pro­meteu «re­cu­perar» o canal do Pa­namá e de­clarou a emer­gência na­ci­onal para, sob pre­texto da luta contra os car­téis da droga, en­viar de­zenas de mi­lhares de sol­dados para a fron­teira com o Mé­xico. A men­sagem é clara: ou o mundo cede às exi­gên­cias eco­nó­micas e po­lí­ticas de Trump ou qual­quer país pode acabar como o Iraque, a Síria, a Líbia ou o Afe­ga­nistão.

O ven­daval de de­cretos as­si­nados nas pri­meiras or­dens não deixa mar­gens para dú­vidas: o seu man­dato será caó­tico, vi­o­lento e imoral. Trump tira os EUA da Or­ga­ni­zação Mun­dial de Saúde, volta co­locar Cuba na in­fame lista de «Países Pa­tro­ci­na­dores do Ter­ro­rismo», le­vanta as san­ções contra os co­lo­natos ile­gais is­ra­e­litas, perdoa cerca de 1500 fas­cistas res­pon­sá­veis pela ten­ta­tiva de golpe no Ca­pi­tólio e cria o De­par­ta­mento de Efi­ci­ência Go­ver­na­tiva, que tra­tará de des­truir re­gu­la­men­tação es­sen­cial em todas as es­feras da vida e acabar com cen­tenas de ins­ti­tui­ções fe­de­rais, ati­rando para o de­sem­prego e para a po­breza mi­lhões de tra­ba­lha­dores.

Um pouco por todo o mundo, os cí­nicos go­vernos do ca­pi­ta­lismo li­beral, caem ou rendem-se à su­posta ine­vi­ta­bi­li­dade do fas­cismo in­ci­pi­ente. À ve­lo­ci­dade da luz, todos os seus dogmas, ca­te­go­rias, par­tidos, man­tras, dou­trinas e efa­bu­la­ções caem no cai­xote do lixo da His­tória. Re­sis­tirão os co­mu­nistas e ou­tros re­vo­lu­ci­o­ná­rios e pro­gre­sistas. E so­brará a luta de classes.

 



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