Síria, a verdade
A Síria está dividida em três zonas
Os acontecimentos na Síria representam um desenvolvimento negativo, extremamente perigoso, com pesadas consequências para o povo daquele país e para os demais povos do Médio Oriente. Independentemente do distanciamento e das críticas que se poderiam fazer ao governo sírio agora deposto, o que aconteceu na Síria está nas antípodas de uma “libertação”, de uma “revolução” ou de uma acção de “forças libertadoras” em defesa da “liberdade e da democracia”.
Haverá ainda inúmeras questões por clarificar. Mas, do que se conhece até ao momento, aquilo que de facto aconteceu na Síria foi uma agressão externa àquele país que envolveu um complexo xadrez de forças militares, de espionagem, militarizadas e terroristas. Uma agressão e intervenção externa planeada e comandada pelos EUA, a Turquia e Israel, com a participação activa ou passiva de pelo menos um regime árabe – o Qatar –, que resultou na instalação no poder de forças sectárias, religiosamente fanáticas e reconhecidamente terroristas.
As perspectivas da evolução da situação são profundamente negativas e podem lançar a região num conflito sem fim. Os acontecimentos demonstram até onde está disposto a ir o eixo imperialista-sionista para aplacar qualquer resistência ao seu domínio na região, para instalar o “caos ordenado” (teoria desenvolvida nos corredores do Pentágono há muitos anos para manter o domínio dos EUA na região) e para concretizar o projecto do “grande Médio Oriente” que o sionismo e o imperialismo nunca abandonaram.
O que se passou na Síria não foi sequer “apenas” uma “mudança de regime” a que os EUA recorrem sempre que necessitam de eliminar resistências ao seu domínio. É mais do que isso. Trata-se de uma vasta operação, planeada desde 2011, alimentada pela guerra, pelo terrorismo e pelas sanções, que acabou de atingir um dos seus principais objectivos: pôr em causa a existência da Síria enquanto Estado-nação, entidade social e política estável, tradicionalmente secular e pluralista, elemento geopolítico de resistência às manobras imperialistas e sionistas na região e de apoio efectivo às forças da resistência, designadamente palestinianas.
Neste momento, a Síria é um território dividido em três “zonas” delimitadas pelas fronteiras do sectarismo étnico e religioso e pelos interesses das potências envolvidas nessa divisão – Turquia, Israel e EUA. Um país cuja liderança política está neste momento entregue à “Hay’at Tahrir al-Sham” (HTM), uma recauchutagem da Al-Qaeda e do ISIS, organização terrorista sectária de origem sunita, dirigida por Abu Mohamed al-Golani, um reconhecido terrorista e sanguinário a quem os próprios EUA puseram a cabeça a prémio pelo valor de 10 milhões de dólares, e que numa notável operação de “rebranding” (mudança de roupas e aparência e até de nome para Ahmed al-Sharaa) é agora apresentado como um “libertador moderado”.
É este o homem que, para sossegar alguns dos seus mandantes, já afirmou que a “revolução” síria não se alargará a outros países do Médio Oriente e que Israel não contará com a sua oposição, mesmo levando a cabo uma invasão de facto alargando, em muito, a já de si ilegal ocupação dos Montes Golã, e destruindo quase tudo o que resta do exército regular da Síria.
A única verdade que pode ser dita neste momento sobre a Síria é que o imperialismo e o sionismo conseguiram concretizar o que almejavam há mais de 10 anos. Destruir a Síria e com isso provocar um caos ainda maior na região, eliminando factores de resistência à sua criminosa estratégia na região. A história irá encarregar-se de o provar quando a cortina de fumo de montagens e mentiras ocidentais se dissipar.