A verdadeira corrupção

Manuel Gouveia

Disse Thomas Jefferson, citado por Marx em O Capital: «Com lucro adequado o capital torna-se audaz; com 10%, seguro; com 20%, excitado; com 50% de lucro, temerário; com 100% pisará qualquer lei humana; com 300% de lucro não há crime que não arrisque, mesmo sob a ameaça da forca.»

E é esta a base das “políticas económicas” em Portugal: se garantirmos a um capitalista um bom lucro, ele investe; e se lhe dermos um conjunto de benefícios fiscais e apoios ao investimento, ele investe com mais facilidade ainda; e se lhe arranjarmos o capital, então é garantido que investe. Os recursos públicos servem para atrair capitalistas e os planos para decidir para onde os atrair. Sem de facto atrair capital, antes criando dívida nas mais variadas formas.

É preciso desenvolver a energia eólica? Vamos atrair capital para as eólicas. A energia do biometano é uma boa ideia? Vamos atrair capital para o biometano. Desenvolver a energia solar é necessário? Vamos atrair capital para o fotovoltaico. Baterias de sal em vez de lítio? Vamos atrair capital para esta tecnologia. Hidrogénio verde? Vamos atrair capital. Queremos avançar com a Alta Velocidade? Uma PPP para atrair capital.

O que gerou um capitalismo parasitário, subsídio-dependente, onde se luta por ganhar um contrato de PPP, por ser escolhido numa privatização, por colocar nos contratos com o Estado aquela clausula, por ganhar um leilão com preços futuros garantidos. Onde campeia a corrupção. A rentabilidade destas actividades parasitárias drena crescentemente toda a economia, e soma, à exploração das classes trabalhadores que gerou a riqueza, o desvio de recursos públicos e privados para alimentar esse rentismo.

Um exemplo recente: em 1970 discutia-se (pouco e muito poucos) em Portugal que multinacional ia construir o NAL com o projecto e o orçamento definido pelo Estado; hoje, o Estado (poucos, continuam a ser poucos) discute com o capitalista atraído as condições que este exige para fazer o NAL, no seu calendário, com o seu projecto e com o nosso dinheiro, custe o que nos custar a todos.

 



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