Síria e outras “frentes”
Israel não perdeu um segundo na ocupação de território sírio
O ano precipita-se para o fim num quadro internacional instável e fértil em desenvolvimentos de monta. Quatro exemplos, apenas, em modo telegráfico.
Na Síria, ao fim de 14 anos de agressão militar e sanções, a queda do Estado às mãos dos grupos armados, salientando-se o HTS, reencarnação da Al-Qaeda promovido pela Turquia com a cumplicidade de Israel, constitui uma mudança tectónica na política e correlação de forças da região. Coroando o regime sionista, a megalomania neo-otomana de Erdogan e a estratégia do imperialismo. À pala da mediatizada “libertação” do povo sírio, a fragmentação e perda de soberania do país é uma realidade dramática e o genocídio do povo palestino não é tema prime time dos grandes média. Na senda do projecto sionista da “Grande Israel”, Telavive não perdeu um segundo na ocupação de mais território do país que historicamente desempenhou um papel incontornável na resistência árabe, enquanto elimina os restos do potencial defensivo das forças armadas de Damasco desfeitas em pó e continua o massacre em Gaza e os ataques ao Líbano. Rejubila o ego neocolonial de França e UE. Também os EUA, arquitectos do desmantelamento da Síria, que mantêm as bases militares e controlo ilegais dos principais poços de petróleo. A questão curda ficará para os meandros da velha diplomacia secreta, não augurando também um futuro de paz.
Na Roménia, o Tribunal Constitucional decidiu anular a primeira volta das eleições presidenciais, a 48 horas da realização da segunda volta e após ter validado os resultados. O triunfo inicial de um candidato, da extrema-direita, com uma campanha crítica da UE e NATO na guerra da Ucrânia causou perturbação nos círculos dominantes. O país é um activo estratégico na linha de confrontação militar com a Rússia, no momento em que a guerra se encontra num limiar muito perigoso. A sentença é mais um grave passo na via de amputação dos direitos democráticos. O papão da Rússia serve também para alijar responsabilidades próprias na emergência das “forças populistas”. Os romenos ficam a saber: podem votar como quiserem, mas só nos candidatos do “consenso democrático” – pró-EUA, NATO e UE.
Ao invés, na Coreia do Sul, falhou rotundamente a tentativa de golpe de Estado do presidente reaccionário Yoon Suk Yeol, entretanto impugnado pelo parlamento. Sobressai a massiva participação popular, e do movimento sindical, na rejeição do decreto de lei marcial de Yoon, sob o extraordinário pretexto de eliminação das «ameaças» das «forças comunistas norte-coreanas», e na exigência do seu afastamento. A sociedade sul-coreana tem presente as décadas de feroz ditadura militar. O mandato interrompido de Yoon não poupara esforços no apoio ao triângulo militar anti-China (e RPDC) com o Japão e os EUA, que têm mais de 28 mil soldados no país. O decreto marcial durou só seis horas, mas a intentona fascista é um sinal dos tempos que correm.
Na Geórgia, o cenário da Maidan a papel químico da Ucrânia pode, contudo, fracassar, como o indicia o desespero da presidente cessante, antiga embaixadora da França em Tbilissi. Seria um marco num percurso de mais de 30 anos, até depois do fundador do partido no governo ter afirmado recentemente que a Geórgia «deve pedir desculpas aos ossetas [do Sul] pela guerra de 2008». A confissão desmascara a narrativa de culpabilização de Moscovo. A censura dos média “independentes” foi total.