Do BES ao Novo Banco: o escândalo continua!
Vimos como em Setembro o foco mediático se virou para o julgamento de Ricardo Salgado, um dos principais arguidos do colapso do Banco Espírito Santo. Os directos do Campus da Justiça, os comentários sobre o estado de saúde do arguido, as compreensíveis perplexidades sobre o funcionamento da justiça em torno de um caso – BES – que se arrasta há mais de dez anos. Uma cobertura mediática que conseguiu ignorar o que de mais fundamental se impunha abordar: a corrupção associada à gestão privada do BES, cujos impactos foram integralmente pagos pelo povo português.
Mas ao contrário do que nos querem fazer acreditar, o escândalo do BES não terminou com Ricardo Salgado. O BES deu origem ao Novo Banco (já limpo de dívidas porque estas ficaram para o erário público) e foi entregue – pelo governo PS – a um fundo americano – Lone Star – que o tem gerido de forma a sacar o mais possível, matéria na qual tem demonstrado uma enorme competência, como se vê pelos lucros alcançados.
Na verdade, o Estado português não só entrou inicialmente com mais de 4000 milhões de euros para a recapitalização do banco, como assumiu ao longo destes anos outro tanto – por via do Fundo de Resolução e do acordo estabelecido com os novos accionistas. Ao todo estaremos a falar de valores que podem vir a atingir os dez mil milhões de euros de impacto nas contas públicas.
Agora, o Governo PSD/CDS prepara-se para acabar com as limitações que existiam à distribuição de dividendos pelo NB e, se assim for, os seus accionistas podem vir a sacar, de uma vez só, mais de 1000 milhões de euros (mais do que o que pagaram pelo dito). Moral da história: os prejuízos foram pagos pelo povo português, os lucros ficaram do lado dos que se lambuzaram com as negociatas do BES e dos que devoraram a carcaça do NB. Quanto ao banco, esse, prepara-se para ser vendido sem qualquer garantia de que, no futuro, não venha a suceder o mesmo.
É este o Estado máximo para servir os interesses do capital. É esta a política de submissão à banca privada que uniu e une os governos PS e PSD/CDS. É assim o capitalismo no seu estado mais puro com que a IL e o Chega sonham acordados.
E não se pense que este assalto à luz do dia venha a merecer particular atenção por parte dos media, que ainda nos vão tentar convencer que o Governo e o País, afinal, fizeram um grande negócio.