Incontáveis milhões para a guerra

Cristina Cardoso

O negócio da guerra não pára de aumentar

De acordo com novos dados divulgados pelo SIPRI (Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo), as 100 maiores empresas de armamento atingiram, em 2023, um aumento de receitas em termos reais de 4,2% em relação a 2022, provenientes das vendas de armas e serviços militares. Metade destas receitas, 317 mil milhões de dólares, pertencem às 41 empresas norte-americanas que fazem parte deste “Top 100”. O negócio da guerra não pára de aumentar com a corrida aos armamentos, a guerra na Ucrânia e no Médio Oriente, sem esquecer o genocídio na Palestina, as tensões crescentes na Ásia-Pacífico ou os programas de rearmamento no âmbito da NATO e da União Europeia. O SIPRI também prevê que em 2024 possamos continuar a assistir a um aumento significativo destas receitas, havendo sinais por parte da indústria militar de um optimismo em relação às vendas.

Não será para menos. Como exemplo, nesta frenética corrida para garantir que a guerra continua, a Administração Biden acabou de anunciar mais um pacote de mil milhões de dólares de “ajuda” à Ucrânia, para compra de novas armas... Desde 2022, os EUA já atribuíram 62 mil milhões de dólares à Ucrânia, somando-se mais de 57 mil milhões de dólares de outros aliados do regime de Kiev, como confirmado por Lloyd Austin, chefe do Pentágono, durante um discurso no Fórum de Defesa Nacional Reagan, na Califórnia.

A parada é muito alta. O Congresso dos EUA aprovou, em Abril, um projeto de lei de “ajuda” militar suplementar e despesas de 95 mil milhões de dólares, em que 8,1 mil milhões são destinados ao cerco à China na Ásia-Pacífico.

Na UE, aposta-se no militarismo, no complexo militar-industrial e em projectos militares conjuntos, com Ursula von der Leyen a fazer apelos ao aumento nos gastos militares e para a guerra. Em linha com o que Mark Rutte, o recente empossado Secretário-Geral da NATO, sugeriu no final de uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO, realizada na semana passada, de que os países deverão retirar verbas destinadas às pensões, à Segurança Social e à saúde para aumentar as despesas militares, afirmando que é necessário ultrapassar a meta de gastos de 2% do PIB de cada Estado para o militarismo e a guerra. Ideia defendida por Donald Trump, que na sua campanha eleitoral lançou os 3% do PIB “para cima da mesa”.

Perante as descaradas declarações de Mark Rutte e pressão exercida sobre os Estados-membros da NATO para aumentarem as suas despesas militares, é de registar as declarações do MNE português, Paulo Rangel, que não exclui a possibilidade de aumentar o orçamento para defesa face aos compromissos com a política belicista da NATO e da UE, na linha seguidista e subserviente de sucessivos governos portugueses com o imperialismo, que tão bem conhecemos.

É assim alimentado o monstro do complexo militar-industrial. São incontáveis os milhões que deveriam ser postos à disposição dos povos com vista à resolução dos seus problemas e melhoria das condições de vida, mas em vez disso, são utilizados para semear a destruição e a morte, comprometer o desenvolvimento, impor o caos e a miséria. Um complexo militar-industrial, com lucros astronómicos, que tudo faz para impedir os caminhos da paz que os povos anseiam.

 



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