Indefinição, insuficiência e falsas soluções na COP29

«Fazer de­pender as po­lí­ticas am­bi­en­tais de ins­tru­mentos ba­se­ados no mer­cado será sempre uma pe­ri­gosa e falsa so­lução», ga­rante o PCP a pro­pó­sito da re­a­li­zação, no Azer­beijão, da COP29.

Fi­nan­ci­a­mento não pode sig­ni­ficar en­di­vi­da­mento

«Salvar a Na­tu­reza e não o ca­pital» é o que propõe o PCP, para quem os me­ca­nismos de mer­cado – como os que foram pro­postos em mais uma Con­fe­rência das Na­ções Unidas sobre Al­te­ra­ções Cli­má­ticas (COP) – pro­cu­rarão, em pri­meiro lugar, «ga­rantir in­te­resses fi­nan­ceiros e nunca a sal­va­guarda am­bi­ental».

É de­ter­mi­nante re­jeitar «ve­lhas e novas formas de apro­pri­ação de re­cursos na­tu­rais e pro­cessos de tran­sição ener­gé­tica e tec­no­ló­gica con­du­zidos sob os in­te­resses do grande ca­pital», ga­rante o PCP, que in­siste ser também fun­da­mental «re­co­nhecer a cada país e a cada povo o seu di­reito a pro­duzir e à so­be­rania em do­mí­nios es­sen­ciais, como o ali­mentar». A luta em de­fesa da Na­tu­reza e do am­bi­ente, acres­centa, é ne­ces­sa­ri­a­mente também contra a guerra, o que im­plica a de­núncia do im­pe­ri­a­lismo «e do seu papel na cor­rida aos ar­ma­mentos, assim como re­jeição da pro­moção de uma “eco­nomia de guerra”».

Ora, o acordo final da COP29, con­cluída há dias na ca­pital azeri, Baku, ca­rac­te­riza-se pre­ci­sa­mente pela «in­de­fi­nição dos mé­todos de de­ter­mi­nação das metas de di­mi­nuição de emis­sões, pela in­su­fi­ci­ência de fi­nan­ci­a­mento para os pro­cessos de tran­sição e também pela de­sa­de­quação dos me­ca­nismos de im­ple­men­tação das po­lí­ticas de adap­tação e mi­ti­gação das al­te­ra­ções cli­má­ticas».

Res­pon­sa­bi­li­dades e de­si­gual­dades
À se­me­lhança do que su­cedeu em con­fe­rên­cias an­te­ri­ores, lembra o PCP, os países eco­no­mi­ca­mente mais de­sen­vol­vidos, e os in­te­resses das grandes trans­na­ci­o­nais que re­pre­sentam, «pres­si­onam para ni­velar res­pon­sa­bi­li­dades nos pro­blemas am­bi­en­tais, não que­rendo as­sumir as suas res­pon­sa­bi­li­dades his­tó­ricas e que­rendo afirmar me­ca­nismos per­pe­tuar de­si­gual­dades». Já os países em de­sen­vol­vi­mento pre­tendem ga­rantir «formas de tran­sição que não apro­fundem de­si­gual­dades, que não ali­mentem mais as dí­vidas na­ci­o­nais e que ga­rantam que têm con­di­ções para se de­sen­volver».

No do­cu­mento final per­siste a in­de­fi­nição quanto às formas e cri­té­rios com que os países in­for­marão as “Con­tri­bui­ções Na­ci­o­nal­mente De­ter­mi­nadas” para re­duzir emis­sões – o PCP de­fende, a este pro­pó­sito, o prin­cípio da “res­pon­sa­bi­li­dade comum, mas di­fe­ren­ciada”. Quanto ao fi­nan­ci­a­mento, que fica aquém do exi­gido, su­blinha-se também as formas de­sa­de­quadas de acesso aos fundos: «Quando países de­sen­vol­vidos falam em fi­nan­ci­a­mento das po­lí­ticas de adap­tação e mi­ti­gação das al­te­ra­ções cli­má­ticas, estão so­bre­tudo a pensar em em­prés­timos, o que, para os países em de­sen­vol­vi­mento, sig­ni­fica en­di­vi­da­mento.»

O PCP cri­tica igual­mente a “glo­ba­li­zação” do Mer­cado Global de Car­bono, que ga­rante que grandes em­presas po­lui­doras con­ti­nu­arão a po­luir re­cor­rendo à compra de cré­ditos de emissão – ora, trata-se de me­ca­nismos de mer­cado, que já de­mons­traram ine­fi­cácia em termos da ca­pa­ci­dade de re­dução de emis­sões e que servem a es­pe­cu­lação fi­nan­ceira.

 

A ne­ces­sária vi­ragem na po­lí­tica am­bi­ental

O PCP de­fende «ver­da­deiras po­lí­ticas de adap­tação aos efeitos das al­te­ra­ções cli­má­ticas, o que im­plica: in­ves­ti­mento na in­ves­ti­gação ci­en­tí­fica, na pre­venção dos efeitos das ondas de calor, na pre­venção de pragas, do­enças e es­pé­cies in­va­soras, pro­tecção da orla cos­teira, na pro­tecção contra inun­da­ções, assim como na adap­tação dos meios ur­banos, no­me­a­da­mente com a in­te­gração de con­ceitos de adap­tação nas po­lí­ticas de ur­ba­nismo».

A ne­ces­sária re­dução das emis­sões de Gases com Efeito de Es­tufa, acres­centa, re­quer uma «vi­ragem na po­lí­tica am­bi­ental do nosso país, re­for­çando os meios ma­te­riais e hu­manos das es­tru­turas pú­blicas de gestão e mo­ni­to­ri­zação am­bi­ental, apos­tando no con­trolo pú­blico dos sec­tores es­tra­té­gicos, pro­mo­vendo o trans­porte pú­blico e a subs­ti­tuição do trans­porte in­di­vi­dual, va­lo­ri­zando a pro­dução e con­sumo lo­cais e a im­ple­men­tação de me­didas que en­curtem e ra­ci­o­na­lizem as ca­deias de pro­dução e dis­tri­buição, assim como ga­ran­tindo o con­trolo pú­blico da água e do sector dos re­sí­duos, com de­sen­vol­vi­mento de po­lí­ticas de com­bate ao des­per­dício e à ob­so­les­cência pro­gra­mada».

 



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