Desescalada?

Ângelo Alves

Israel bombardeou o Irão na madrugada de sábado passado. A atenção mediática internacional esteve centrada em mais uma provocação de Israel visando a guerra total no Médio Oriente. Perante a dimensão e os reais efeitos do ataque, e tendo em conta a reacção política das autoridades iranianas, vários comentadores afirmaram estarmos afinal perante um momento de desescalada. Será assim?

É verdade que o ataque israelita não correspondeu à dimensão e à “fúria” com que Netanyahu e o seu governo tinham ameaçado o Irão. É verdade que a reacção das autoridades iranianas ao ataque foi responsável e cautelosa, confirmando que o Irão não procura uma guerra total no Médio Oriente. E também é verdade que os EUA – que estiveram completamente envolvidos na preparação e concretização deste ataque – afirmaram, em acto quase súbito, que “apenas” foram “informados” do ataque, que não estiveram “envolvidos”, e que “exortavam” o Irão a não responder. Até ao momento o Irão não o fez e parece não o pretender fazer, pelo menos de imediato.

Mas, na nossa opinião, esta sequência de acontecimentos não permite concluir pela teoria da desescalada. É que um dos objectivos da estratégia israelita de provocação directa a vários países da Região (recorde-se que no mesmo momento que o Irão foi atacado a Síria, e a sua capital Damasco, também o foram) é exactamente desviar o foco de atenção do conflito principal – os massacres, os crimes, a ocupação e o genocídio que Israel continua a levar cabo nos territórios palestinianos e no Líbano.

Independentemente dos reveses militares que Israel está a sofrer na tentativa de invasão do sul do Líbano (e que poderão, a exemplo de 2006, obrigar a uma retirada), o facto é que não há nenhuma desescalada, designadamente na Palestina. Bem pelo contrário. O criminoso regime sionista parece determinado em concretizar o “plano dos generais”, de cerco, massacre e limpeza étnica na zona norte da Faixa de Gaza, onde desde 6 de Outubro foram mortas 1000 pessoas, separadas famílias, arrasados quase todos os edifícios e campos de refugiados, expulsas populações inteiras e atacado o único hospital que ainda funcionava na zona.

 



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