A raiz

Jorge Cadima

O genocídio na Palestina tem na raiz o imperialismo

A barbárie sionista prossegue impune. Nos últimos dias Israel bombardeou tendas de refugiados junto ao Hospital al-Aqsa em Gaza, queimando vivas pessoas sob o olhar impotente dos sobreviventes (BBC, 19.10.24). Philippe Lazzarini, Comissário-Geral da UNRWA, organização da ONU para os refugiados palestinianos, informou (X, 18.10.24) que, só na semana anterior, Israel bombardeou três escolas causando dezenas de mortes, muitas delas crianças. Um grupo de 65 médicos dos EUA que trabalhou em Gaza no último ano traz relatos de crianças mortas por balas disparadas à cabeça ou ao peito, com todas as marcas de assassinatos por franco-atiradores israelitas. Até o New York Times (15.10.24) confirma as provas da denúncia. A Margem Ocidental está a ser transformada numa nova Gaza, com razias sistemáticas de destruição e morte. O jornal libanês L’Orient Today (6.10.24) denuncia que as muitas dezenas de bombas de alta potência usadas na destruição de prédios inteiros de Beirute por Israel contêm urânio empobrecido. Os EUA usaram essas armas na Jugoslávia e Iraque. Neste último país, os casos de leucemia aumentaram em 60% entre 1990 e 1997. Em Basra triplicou entre 1990 e 1998 o número de partos com malformações congénitas (thecradle.co, 8.10.24).

A comunicação social de regime ignora ou minimiza, enquanto as ‘democracias ocidentais’ colaboram activamente na chacina. A ajuda militar dos EUA a Israel neste último ano já atinge 18 mil milhões de dólares (Washington Post, 14.10.24). Soldados dos EUA estão presentes em Israel (Reuters, 13.10.24). EUA e Reino Unido bombardeiam conjuntamente o Iémen (CNN, 17.10.24). A Marinha alemã gaba-se de ter abatido um drone lançado a partir do Líbano contra Israel (Reuters, 17.10.24), embora o seu navio esteja ao serviço da UNIFIL, a força de ‘manutenção de paz’ da ONU no Libano, que tem estado a ser sistemática e deliberadamente atacada… por Israel (thecradle.co, 18.10.24). A farsa dos ‘esforços diplomáticos’ para um cessar-fogo tornou-se grotesca: os EUA deram um prazo de 30 dias (!) para Israel permitir a entrada de ajuda humanitária (!) em Gaza, findo o qual ameaçam reduzir (!) o seu apoio militar (BBC, 16.10.24). A catástrofe de Gaza tem luz verde de Biden (e Harris, Trump, von der Leyen).

Ao fim dum ano, ninguém pode negar: o genocídio na Palestina faz parte do ‘mundo baseado em regras’ das potências imperialistas. Queimar crianças vivas é um ‘valor ocidental’. Matar seres humanos como se fossem animais de caça é ‘o nosso modo de vida’. O genocídio tem antecedentes históricos. O extermínio das populações originárias das Américas pelos colonizadores. A sua substituição por milhões de escravos trazidos de África. A colonização de quase todo o planeta. As duas guerras mundiais. Os campos de extermínio e trabalho forçado do nazi-fascismo. O holocausto nuclear de Hiroxima e Nagasáqui. O uso de armas químicas e biológicas, como no Vietname e Coreia. O napalm usado também pelo colonialismo português em África.

Na raiz de tudo isto está a exploração. Os pretextos (divinos ou terrenos) de ‘superioridade’ invocados para justificar a apropriação das riquezas por uma pequena minoria, sejam quais forem os crimes cometidos. A dominação de classe e de povos exige a desumanização das vítimas. O genocídio na Palestina, neste século XXI, tem na raiz o imperialismo.



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