Não têm vergonha nenhuma

Manuel Gouveia

Lemos no jornal que o Governo vai obrigar a ANA/Vinci a fazer obras na Portela até esta chegar aos 45 milhões de passageiros. Parece que a ANA, que o que queria era ampliar a Portela até esta atingir a capacidade de 45 milhões de passageiros, cedeu à imposição governamental. Pudera!

Aliás, terá sido com um similar murro na mesa que o ministro Pinto Luz obrigou a ANA/Vinci a aceitar a oferta do Aeródromo de Figo Maduro. E bateu com tanta força na mesa que a ANA/Vinci foi obrigada a integrar o Aeródromo numa concessão que ainda tem 40 anos de validade, num momento em que, em teoria, o País estaria a avançar para a construção de um Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) e a desactivar a Portela, pelo que Figo Maduro também estaria de novo livre daqui a 6-10 anos.

É neste momento perfeitamente evidente que o Governo mudou de táctica, mas não mudou de objectivo. Mansamente ajoelhado aos pés da multinacional, o Governo fala em fazer o NAL, cria grupos de trabalho para decidir o NAL, manda fazer estudos sobre o NAL, um dia destes anunciará decisões sobre o NAL, mas é tudo fumaça. O que está a ser feito é o que a Vinci quer: alargamento físico da Portela, investimentos na Portela, alargamento de horários da Portela, tudo para continuar a operar dentro da Cidade de Lisboa e para aumentar ainda mais a operação dentro da cidade de Lisboa. Custe o que custar ao País, à Cidade e a quem nela vive e trabalha.

Não faz qualquer sentido o volume de investimentos que estão a ser despejados na Portela para encerrar o Aeroporto daqui a 6-10 anos. Nenhum. E não é o caos da Portela que justifica a urgência: esse caos foi criado pela multinacional ao atrasar o NAL e não vai desaparecer enquanto o País não estiver dotado de um NAL. Tudo porque a multinacional ganha muito mais dinheiro operando mal na Portela que investindo num novo Aeroporto uma parte dos lucros que está hoje a amealhar. Tudo porque PS, PSD, CDS, IL e CH e o geral da comunicação social traem o interesse nacional, não só obedecendo às directivas da Vinci como amplificando a sua propaganda.



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