Prazos
30 dias: foi este o prazo dado pelos EUA a Israel para melhorar a situação humanitária na Faixa de Gaza. Se não o fizer, promete a administração Biden, poderá haver consequências, nomeadamente ao nível do apoio militar.
Isso mesmo foi salientado numa carta assinada por Anthony Blinken e Lloyd Austin, respectivamente Secretário de Estado e Secretário da Defesa dos EUA, na sequência das denúncias de que Israel privava de alimentos 400 mil pessoas, como forma de as forçar a abandonar o Norte do martirizado território palestiniano. Também a vice-Presidente e candidata Democrata às eleições de Novembro, Kamala Harris, afirmou através das redes sociais que Israel deve «fazer mais» para garantir que a ajuda alimentar chega às pessoas que dela necessitam, asseverando que «o direito internacional humanitário deve ser respeitado». A administração norte-americana disse igualmente, e «muito directamente», a Israel que se opõe aos ataques contra as tropas da ONU instaladas no Sul do Líbano…
Estas notícias fizeram furor e foram apresentadas por cá como evidências do crescente afastamento entre Israel e o seu mais permanente e confiável aliado. Mas talvez não seja caso para tanto, até porque este nem é sequer o primeiro “ultimato” feito a Israel pelos EUA: já em Maio, Biden e Blinken tinham ameaçado interromper o fornecimento de “certas armas” a Israel caso este insistisse na ofensiva contra Rafah, cidade no Sul da Faixa de Gaza onde se amontoava então mais de um milhão de pessoas, para ali deslocadas à bomba do Norte e do centro do território. Entretanto, o massacre prosseguiu e… nada aconteceu.
O mesmo sucedeu com os “avisos”, e foram tantos: os civis deviam ser protegidos, os palestinianos tinham o direito a regressar às suas casas, os hospitais não eram alvos legítimos, havia que proteger as crianças… Israel desrespeitou-os a todos, excedendo em brutalidade e desumanidade tudo o que já se viu nas últimas décadas. Ainda há dias, bombardeou um acampamento instalado num complexo hospitalar, imolando famílias inteiras, e mais de 400 000 crianças libanesas estão hoje deslocadas devido aos bombardeamentos israelitas, partilhando o infortúnio com milhares de outras, palestinianas (as que sobreviveram, evidentemente).
Não há “ultimatos”, “avisos” ou “ameaças” capazes de esconder a verdade: o genocídio, os massacres, as provocações não são apenas obra de Israel, mas também dos EUA. Provam-no os 18 mil milhões de dólares de financiamento militar, a anunciada instalação do sistema de mísseis THAAD, o reforço de contingentes militares na região, os sucessivos vetos no Conselho de Segurança da ONU.
Sobram as palavras. O que, convenhamos, é muito pouco.