O estranho caso das vítimas do comunismo

António Santos

Há 15 anos que a inauguração do Memorial às Vítimas do Comunismo, em Otava, no Canadá, é sistematicamente adiada. O monumento público, que custou mais de 7,5 milhões de dólares, está há muito feito e reúne o consenso da oposição, do governo e até do Rei, mas parece que sempre que lhe vão cortar a fita, como devia ter acontecido em Novembro de 2023, acontece a mesma coisa. Os nomes das vítimas do comunismo são muito esquivos: escondem-se sob tapumes das obras e lonas de plásticos na esquina das ruas Wellington e Bay, a poucos metros do Parlamento, e sempre que alguém os pretende homenagear à luz do dia e da História, eles desaparecem.

O monumento original do Ministério do Património honrava a memória de 553 vítimas do comunismo, mas começaram imediatamente a desaparecer quando se descobriu que, gravados no bronze, se poderiam ler nomes como o de Ante Pavelic, fantoche de Hitler na Croácia e responsável pelo genocídio de centenas de milhares de sérvios, judeus, ciganos e comunistas, ou de Roman Shukhevych, nacionalista ucraniano também às ordens de Hitler, que ordenou a morte de outras centenas de milhares de mulheres e crianças polacas e judias.

Se as vítimas do comunismo tivessem noção do trabalho que dá retirar um único nome do Arco da Memória que «convida os visitantes a passar por uma viagem metafórica da escuridão e da opressão até à luz e à liberdade» saíam todos de uma vez. Não se pode deixar um espaço sem nada onde estava o nome de um nazi — é preciso retirar tudo e reorganizar os nomes todos — uma chatice às gotinhas: das 553 vítimas do comunismo, 60 revelaram-se nazis.

Quando, em 2023, o Ministério do Património considerou a lista finalmente limpa de nomes nazis e se preparava para inaugurar o memorial, outra vítima do comunismo, Yaroslav Hunka, foi homenageado no parlamento canadiano pelo primeiro-ministro, Justin Trudeau, e pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, de visita ao país. O problema é que Hunka, soube-se depois, também é um antigo voluntário das SS. Desde então, revelou, na semana passada, o Ottawa Citizen, descobriu-se que outros 330 nomes poderão «ter ligações a organizações fascistas ou nazis», pelo que o monumento continua sem data de inauguração porque, mesmo reduzida de 553 a 163 nomes, a lista «poderá não estar ainda totalmente limpa» de nazis, fez saber o Centro Simon Wiesenthal. É tão difícil limpar a lista das vítimas do comunismo, que talvez fosse mais fácil limpar antes a História. Ah, espera…

 



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