O conceito de transparente em Pinto Luz

Manuel Gouveia

A ex­pressão es­co­lhida por Pinto Luz de­pois de co­nhecer o re­la­tório da Ins­pecção Geral de Fi­nanças (IGF) foi: «Nada há a es­conder, foi tudo trans­pa­rente.» E pro­mete a mesma trans­pa­rência para o pro­cesso de pri­va­ti­zação em curso. Ve­jamos então o con­ceito de trans­pa­rência de Pinto Luz:

- Tanto a IGF como a Co­missão Par­la­mentar de Inqué­rito (CPI) apontam, e hoje, os pró­prios en­vol­vidos o re­co­nhecem, que o Go­verno em 2015 sabia que a TAP es­tava a ser com­prada com di­nheiro da pró­pria TAP. Mas na al­tura, disso não in­for­maram o País, nem se­quer a As­sem­bleia da Re­pú­blica, nem muito menos a Co­mu­ni­cação So­cial.

- A TAP em 2015 foi ven­dida a David Ne­e­leman, como hoje TODOS re­co­nhecem. No en­tanto, essa venda, a um não na­ci­onal de um país da UE, seria ilegal. Assim o go­verno fingiu na al­tura que a TAP fora ven­dida a Hum­berto Pe­drosa e a UE e a Co­mu­ni­cação So­cial fin­giram acre­ditar.

- A TAP foi ven­dida porque pre­ci­sava UR­GEN­TE­MENTE de ser ca­pi­ta­li­zada, como an­daram anos a dizer os mem­bros do Go­verno e da Ad­mi­nis­tração da TAP e a Co­mu­ni­cação So­cial am­pli­ficou ale­gre­mente. Hoje está de­mons­trado que os com­pra­dores da TAP não a ca­pi­ta­li­zaram, antes se ca­pi­ta­li­zaram com ela. Que David Ne­e­leman não só não co­locou 226 mi­lhões na TAP como ainda con­se­guiu re­tirar, pelo menos, 55 mi­lhões sem qual­quer jus­ti­fi­cação.

- Pe­rante um re­la­tório da IGF que res­pon­sa­bi­liza os mem­bros do an­te­rior go­verno PSD/​CDS, mas também o ac­tual Se­cre­tário-Geral do PS, a res­posta do PSD é a de que es­tamos pe­rante uma ca­bala po­lí­tica. Isto de­pois da Au­di­toria do Tri­bunal de Contas à pri­va­ti­zação da ANA ter me­re­cido o mesmo tra­ta­mento – outra ca­bala po­lí­tica.

Ora o quinto pro­cesso de pri­va­ti­zação da TAP ainda mal co­meçou, e este é o pa­tamar de trans­pa­rência que nos pro­metem! A prá­tica tem sido sempre pior que o pro­me­tido, pelo que se pode fa­cil­mente ima­ginar o ab­so­luto de­sastre que aí vem. Se a pri­va­ti­zação de 1998 custou ao país cerca de 300 mi­lhões, e a de 2015 cerca de 700 mi­lhões, de cer­teza que que­remos es­perar para saber quanto cus­tará a pró­xima?

 



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