Orçamento, ruptura e alternativa

Vasco Cardoso

Estamos a assistir há meses a um simulacro de discussão sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2025. Resmas de comentadores e jornalistas consomem horas de programas televisivos e páginas de jornais em torno da única pergunta que conta para os que querem o prosseguimento da política de direita: vai ou não ser aprovado o OE?.

Fora do debate estão os problemas do País e as necessidades sentidas pelos trabalhadores e a esmagadora maioria da população. Salários, pensões, investimento público, SNS, Escola Pública, direito à habitação, produção nacional, justiça fiscal, são substituídos por uma discussão estéril sobre linhas vermelhas, pressões e chantagens que se seguem umas atrás das outras sem que nada de substancial se acrescente, a não ser a ameaça da “crise política”.

Com o Governo PSD/CDS no centro dessa operação, que é patrocinada pelo Presidente da República, vemos o PS a alinhar neste simulacro de debate, aceitando vender-se pelo mal chamado IRS jovem, a bem do interesse nacional e da “estabilidade política”. As propostas que adiantou para aceitar viabilizar o OE não alteram uma vírgula no rumo de exploração, desigualdades e injustiças que o Governo está a concretizar. No fundo, da mesma forma em que o Governo PSD/CDS está a governar em 2024, sem qualquer sobressalto para os seus objectivos, com um OE aprovado pela maioria PS, em 2025 não viria mal ao mundo se a mesma sintonia se mantivesse.

Já não bastavam as crescentes imposições da UE em matéria orçamental – agravadas este ano – para limitar o quadro de opções que Países como Portugal podem ter neste domínio. O debate a que temos assistido este ano estreita ainda mais esse caminho.

Mas se é verdade que este é um dos principais dramas e factores de bloqueio à vida nacional – a convergência de PS, PSD, CDS , Chega e IL, naquilo que é essencial para o grande capital – também não deixa de ser revelador a urgência de lutar por uma alternativa política que rompa com décadas de política de direita. É esse caminho de ruptura e alternativa, que não tem lugar no debate e comentário político patrocinado pela comunicação social, que precisa de ser afirmado pelo PCP e e projectado com a força da luta dos trabalhadores e do povo.

 



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