Desejos e realidades

Manuel Rodrigues

Em recente entrevista ao Expresso, Luis de Guindos (LdeG), vice-presidente do Banco Central Europeu, divagou sobre questões de economia na zona Euro. A dado passo, com a assertividade característica dos defensores de serviço do capital monopolista, afirmou: «A nossa projecção mostra que a dinâmica salarial começará a moderar-se, como já mencionei, e acreditamos que em 2025 haverá uma clara desaceleração do aumento dos salários.»

Para sublinhar o vaticínio de LdeG, o Expresso, ele próprio um órgão de informação nas mãos dum grupo económico, chamou para título a mensagem central da longa entrevista de duas páginas: «Em 2025 haverá uma clara desaceleração dos salários».

Entretanto, LdeG, que se pronunciou largamente sobre factores económicos para chegar à brilhante conclusão acima referida, mesmo não dizendo em que dados se baseia para afirmar que, até agora houve aceleração salarial – completamente desmentida pelas dificuldades sentidas por quem trabalha, que em muitos casos empobrece a trabalhar – não teve uma única palavra para se referir aos lucros escandalosos das empresas cotadas na bolsa ou dos principais bancos em Portugal. Devia saber LdeG (e certamente sabe, mas, para a sua visão de classe, esses dados não contam) que, esses sim, aceleraram como se de um bólide da Fórmula 1 se tratasse, mais uma vez, no primeiro semestre deste ano.

É a velha lengalenga de que para fazer crescer a economia é preciso diminuir os salários, que é o mesmo que dizer, que o que importa é fazer crescer os lucros dos grupos económicos e das multinacionais, à custa do aumento da exploração de quem produz a riqueza, os trabalhadores.

Nesta análise, porque a sua visão de classe não lhe permite enxergar nada mais do que isto, LdeG não conseguiu ver que, na evolução destas coisas, há um factor que será sempre determinante: a luta dos trabalhadores e o papel insubstituível de partidos como o PCP que, como se vê, hoje mesmo, dá início à acção «Aumentar salários e pensões. Para uma vida melhor».

Por isso, seria mais sensato por parte de todos os LdeG desta vida, não confundirem desejos com realidades. Porque a luta que aí está e se vai intensificar é um factor objectivo e determinante, aliás, o verdadeiro «motor» que conta para «acelerar» os salários, defender os direitos de quem trabalha e desenvolver o País.





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