Talhada a preceito

Jorge Cordeiro

Se há re­paro que não se pode fazer aos cen­tros que co­mandam a União Eu­ro­peia é o da falta de apuro nas de­ci­sões que as­se­guram um rumo de in­te­gração ca­pi­ta­lista em marcha for­çada capaz de sa­tis­fazer os in­te­resses do ca­pital trans­na­ci­onal que a de­ter­mina. A co­meçar pela es­colha dos ti­tu­lares que hão-de dar rosto e an­da­mento a esses in­te­resses.

Tudo ta­lhado à me­dida, como se vê com a anun­ciada com­po­sição da Co­missão Eu­ro­peia, em que cada pasta as­senta que nem uma luva nas cri­a­turas es­co­lhidas, num exer­cício de tão fino re­corte que há-de fazer in­veja aos mais exi­gentes es­ti­listas da alta cos­tura. Um aprumo de apre­sen­tação, um re­quin­tado acerto ente caras e pastas nesse tecer de fatos que ga­rantam plena fi­a­bi­li­dade de que os pa­drões de mi­li­ta­rismo, fe­de­ra­lismo e ne­o­li­be­ra­lismo que tingem a União Eu­ro­peia não des­botam, des­coram ou acabam puídos.

Maria Al­bu­querque, a agora no­meada co­mis­sária, não des­lustra neste des­file, nem no trajar que lhe foi atri­buído: a pasta dos “Ser­viços Fi­nan­ceiros”, a que se somam ainda al­gumas ou­tras de­sig­na­ções su­ple­tivas, como “pou­pança” e “in­ves­ti­mento”, para dar um certo ar de se­ri­e­dade à função.

Não fosse o caso de al­guém sus­citar dú­vidas sobre a as­ser­ti­vi­dade da es­colha, como se sabe este mundo está po­voado de ma­le­di­cência, Von der Leyen apressou-se a re­gistar «a vasta ex­pe­ri­ência no sector pri­vado e em fun­ções go­ver­na­tivas» da agora in­di­gi­tada. Ra­zões im­ba­tí­veis face ao que por ali, ins­ti­tuição e be­ne­fi­ciá­rios, se cose em ma­téria de in­te­resses e ne­go­ci­atas pri­vadas que en­contra na nova co­mis­sária vasta com­pro­vação, com essa su­cessão de es­cân­dalos e saque a re­cursos pú­blicos que, do es­cân­dalo do BES aos pro­cessos de pri­va­ti­zação da TAP e da EDP, pas­sando pelos swaps, nu­trem ge­ne­ro­sa­mente o cur­rí­culo re­que­rido.



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