Talhada a preceito
Se há reparo que não se pode fazer aos centros que comandam a União Europeia é o da falta de apuro nas decisões que asseguram um rumo de integração capitalista em marcha forçada capaz de satisfazer os interesses do capital transnacional que a determina. A começar pela escolha dos titulares que hão-de dar rosto e andamento a esses interesses.
Tudo talhado à medida, como se vê com a anunciada composição da Comissão Europeia, em que cada pasta assenta que nem uma luva nas criaturas escolhidas, num exercício de tão fino recorte que há-de fazer inveja aos mais exigentes estilistas da alta costura. Um aprumo de apresentação, um requintado acerto ente caras e pastas nesse tecer de fatos que garantam plena fiabilidade de que os padrões de militarismo, federalismo e neoliberalismo que tingem a União Europeia não desbotam, descoram ou acabam puídos.
Maria Albuquerque, a agora nomeada comissária, não deslustra neste desfile, nem no trajar que lhe foi atribuído: a pasta dos “Serviços Financeiros”, a que se somam ainda algumas outras designações supletivas, como “poupança” e “investimento”, para dar um certo ar de seriedade à função.
Não fosse o caso de alguém suscitar dúvidas sobre a assertividade da escolha, como se sabe este mundo está povoado de maledicência, Von der Leyen apressou-se a registar «a vasta experiência no sector privado e em funções governativas» da agora indigitada. Razões imbatíveis face ao que por ali, instituição e beneficiários, se cose em matéria de interesses e negociatas privadas que encontra na nova comissária vasta comprovação, com essa sucessão de escândalos e saque a recursos públicos que, do escândalo do BES aos processos de privatização da TAP e da EDP, passando pelos swaps, nutrem generosamente o currículo requerido.