Líbano – o novo patamar

Ângelo Alves

Há meses que Israel procurava o alargamento do conflito

Ao momento que escrevemos este artigo (noite de segunda-feira), Israel espalha a morte e o terror no Líbano. Em menos de 24 horas os bombardeamentos israelitas mataram cerca de 500 pessoas, 35 das quais crianças e 58 mulheres. Os feridos são já 1700. As forças israelitas atacaram, nestas poucas horas, 1300 alvos. Os bombardeamentos, os piores desde a guerra de 2006, e possivelmente os piores em décadas, estendem-se a toda região do Sul do Líbano, incluindo subúrbios Sul de Beirute, e a quase toda a zona Leste do País, com especial incidência no Vale de Beeka. O ministro da defesa israelita range os dentes e afirma «isto é só o começo».

A retórica e o método da máquina de morte israelita são os conhecidos. Aí está mais uma vez o discurso do «direito à defesa» e da necessidade de «destruir os terroristas», desta vez o Hezbollah. Aí está mais uma vez o discurso de que «os terroristas usam as populações civis como escudo» para justificar os ataques a zonas residenciais e o massacre de civis; aí estão os assassinatos (ou tentativa) de líderes políticos e militares com os quais se deveria estar a negociar e aí estão mais uma vez o uso dos telemóveis e da própria rede de comunicações libanesa para espalhar o terror e ordenar a deslocação em massa das populações. Nestas poucas horas, 112 mil pessoas tiveram de abandonar as suas casas, um número que se soma a outros 100 mil que desde Outubro de 2023 tiveram que sair do Sul do Líbano, onde Israel, recorde-se, realiza há meses provocações, incursões e bombardeamentos, matando inclusive membros do contingente da ONU ali estacionado.

O que se passou nesta segunda-feira (e o que se vai passar a seguir), indica que esta nova guerra sionista contra o povo libanês, a terceira de grande dimensão desde 1984, pode vir a ser uma das mais violentas e mortíferas da terrível história de agressões israelitas ao Líbano. O próprio primeiro-ministro libanês já a considerou como uma «guerra de extermínio em todos os sentidos da palavra e um plano destrutivo que visa destruir as aldeias e cidades libanesas».

Este crime foi estudado, preparado e provocado pelo criminoso regime israelita, designadamente com as criminosas provocações dos últimos dias, como o acto de terrorismo de Estado de explosão provocada de milhares de “pagers” ou o assassinato selectivo por bombardeamento de um alto dirigente militar da resistência libanesa. Estamos perante um novo patamar de provocação. Há meses que Israel procurava o alargamento do conflito, de modo a descentrar atenções e a consolidar o genocídio e ocupação de Gaza, a remeter para segundo plano os massacres cada vez maiores nos territórios ocupados da Palestina na Cisjordânia, a justificar uma ainda maior repressão política em Israel para calar os opositores e, finalmente, para justificar um maior e mais directo envolvimento dos EUA na sua estratégia. Para já, o resultado foi o envio de um novo contingente, de dimensão não revelada, que se juntará aos 40 mil militares já ali estacionados. O momento é de extrema gravidade. Uma guerra de grandes dimensões na região seria uma catástrofe. Se acontecer, os responsáveis serão Israel, os EUA e a cumplicidade da União Europeia. Para os povos da região fica a palavra possível: solidariedade com todos os que têm verdadeiramente o direito de se defender de Israel e que lhe estão a resistir.



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